segunda-feira, 12 de julho de 2010

Quase Carmem, meio Bizet

(Para Andréa, ainda)

Tentei te ligar, mas ouvia Schumann, meio profético, mas tocava Criança dormindo. A madrugada, daquelas que os pelos eriçam, o estômago lateja, os olhos insistem no que não deveriam. Quando se tenta agarrar a algo, mas é impossível. Tantos quilômetros, não? É a voz que cai. Não me deixa cansar de montar este quebra-cabeças. Como Carmem, eu sabia, que não deve brincar entre o touro e o toureiro, nem sorrir nas janelas para estranhos. Hoje não dá para Vivaldi, Pachebel, Charpentier ou Bach. No máximo Palestrina tentando salvar minha alma (que alma?). A música vinha de longe, do fundo do quarto. Nos fones esperava a voz. O que é uma voz? É tão idiota quando se precisa do outro, que até mesmo se inventa meio de conseguir isto. Eu fui buscar em uma gravação o conforto de minha ilusão. O que restará amanhã no mínimo caractere disso? O ruim das dores é que sempre se sobrevive a elas. Ou isto deveria ser o lado bom? Preciso ouvir coisas com nomes estranhos, para não pensar. Langsam, Schleppend – não. Tudo tem passos de cavalo. Nightmare. Um pesadelo poderá ter seu cavaleiro? Eu creio que sim. Knight-mare. Um nome que poderia traduzir isto: Leoncavallo, mas sua Matinatta não ensurdece os meus ouvidos ou os libera. Não ainda para Dvorák, Beethoven, Bernstein, Mendelssohn, Chopin, Elgar, Gershwin, Clarke, Rossini, Stravinsky, Rubinstein, Strauss, Brahms, Haydn ou Mozart. Menos ainda Gomes, Mascagani, Puccini, Offenbach, Moncayo, Suppé, Villa-Lobos e Ginastera (diria impossíveis). Wagner, Chabrier, Albéniz, Grieg, Tchaikovsky, Gounoud, Lehár, Paderewski, Waldteufel, De Falla, Pinge e Verdi (Ah, Celeste Aida!) não são opção. Nem mesmo Debussy ou Ravel. Rimsk-Kosa (um violino cigano? É Sherazarda quem escolhe). Prokofiev apenas insiste onde não deve, entre Montechi e Capuletii; e você sabe o que encontro aqui, para além de Shakespeare? Quem será o cavalheiro eleito?An (latin)american in Paris (mas seria Viena a cidade dos meus sonhos?). Camille Saint-Saëns, Uma dança macabra. Eu comecei a ler James Joyce, mas desisti. Sem pompa e sem circunstância. Evito teu universo, antes disso Jingle Bells. Ah, mon beau sapin…
Sei dizer muito não, é mais seguro (ou não?). C’est ça que reste: Marche au supplice; c’est ça que manque: allegro non troppo. Quem mais ainda? Ivanovici, Martini, Stolz, Kreisler, Fibich, Flotow: NÃO! Procuro algo que não encontrei, mas acho que sei o que é. Tantos nomes e tantos sons, para esquecer um nome e um som, que ainda insiste no vazio. E perturba. Lizst e Liebsträum. Não, ainda.

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