terça-feira, 1 de junho de 2010

fora da cena

Minha boca seca, não saliva mais. Um vento sopra na superfície vermelha das retinas em que uma menina ruiva apenas observa, mas nada vê, corre, mas os monstros nunca chegam, como o labirinto nunca mostra suas paredes. Toca uma superfície, quase pele. O áspero do desejo rasga uma gota a mais, ainda. Quem dirá um não? Algumas coisas se sabem apenas no ponto em que se tornam impossíveis, como assim esta mão te alcançar. É preciso se reconhecer na curva, na imagem invertida, no que resta desta psicose, quase sonho. Ambos, eu e ela, pensamos numa lógica, larga e derivada. Abrimos para além dos mistérios e por isso nos perdermos aqui, neste pele aquém do vidro. Duas vozes que afirmam: “não encontro tua pele”. Talvez haja pianos ainda, talvez o salão aberto para a valsa em si não apresente senão, os casais que desdobrados não se tocam, não se cruzam, mas descobrem o que caí de si no desejo do outro e não satisfazem nem mesmo as oitavas. Talvez Saara, seja ela. Talvez um abismo se abra para o vôo. Apenas o talvez devolve a possibilidade, que poderá sempre não vir como não é toda dor que causa lágrimas. Um nome manuscrito não é uma possibilidade. Eu queria ter a coragem para ir além do deserto, mas o ponto em que cheguei só me diz ainda das areias em que certamente eu morrerei. As estrelas mudam de posição, as palavras se perdem. O deserto aceita apenas sons primitivos da morte, anteriores à criação. Não obstante, o que se ergue numa estante, as colunas, estas areias feitas que tomam as palavras. Meu telefone não toca, mas se tocar ainda não será você, ocupado demais para cruzar os caminhos e os mundos, você apenas passa pela esquina tangente, como quem apenas passa a mão nos livros absurdos que desisto de ler. Escrevo não para sobreviver ou para desabafar ou para montar algo mágico, mas apenas para não esquecer que ainda posso dizer eu.

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