sexta-feira, 18 de junho de 2010

Eisoptrofobia

(um quadro à Toulouse-Lautrec)

Meu novo perfume se chama L’amour liquide e não é Chanel ou Dior. Jim Morrison foi assassinado pelo governo americano: isto escondem as manchetes. Liquidado. Stroheim, Skaggs, Frey, Cooke assinam suas colunas como Glass, Romand, Welles e Münchausen para partilhar os leitores. Nunca abri meu diário para seus jornais, bem como nunca escrevi para a sectio de leitores deles. Não os leio. Queria ignorar que ele telefonava todas as manhãs para me acordar, para que eu acordasse e não sonhasse um pouco mais. Não sei dizer que dia é hoje ou que horas acordo. Não é a overdose de algo, estou sem comer há mais de 24 horas, de beber um pouco menos, quem sabe bem menos, ainda assim não é este o efeito. Um quarto de hotel é sempre um quarto de hotel. O Hay-Adams Hotel não me devolve mais suas caveiras. Insisto em ter mais um novo ataque cardíaco. Washington não é Nova Iorque ou Paris. De cartão de crédito em punho para a liquidação (é trabalho!), releio o nome grafado nele: Elizabeth Bathory. Esta pode ser eu? Meu ataque cardíaco adiado em suaves prestações. Aceito meu nome por agora. Não lembro mais dele. Não lembro mais do corpo dele. Ele me deixou apenas com uma mordida no queixo e um corte no lábio. A pele também sabe esquecer.Vai esquecer. Talvez pague alguma falsa diplomacia. Pelo telefone ele diz que eu não me deixo amar. Não sei se acredito nisso, ou não. Como decidir esta verdade? Sempre sou eu quem espera o convite para um café, que procura os postais, as cartas desencontradas, que é deixada na escada sozinha sufocada. Eu acredito e me corrompo, mesmo quando não deveria. Qual o crime? Se eu amo, é que tu és amável. É a mim que amo, mas a ti, tu és também o derradeiro golpe, já que há em ti qualquer coisa que me faz te amar. Parece recíproco dado que há um vai-e-vem: o amor que tenho por ti é o efeito em retorno da causa do amor que tu és para mim. Ainda que tu não sejas por nada. Meu amor por ti não é somente meu negócio, mas também o tem. Meu amor diz qualquer coisa de ti que pode ser que tu mesmo não conheças. Eu mesma desconheço e me é impossível calcular as mortes disso para poder avançar. Eu encontro(-me) vítima talvez por puro azar. hasard. Fecho as cortinas, alinho o corpo e o copo: perpendiculares. É preciso se preocupar com o desenho que fazem as sombras. Jamais irei recuperar aquele clarão que havia na minha silhueta. Aquela luz que sempre insistia como um reflexo desejoso em meu nariz de mulher. Talvez um brilho de olhar jovem. Detesto Werther e Charlotte. Cansei deste labirinto truncado que habito como sinuosa serpente, quase Medéia com seus mal-entendidos, apago as luzes. O escuro conforta e não devolve fantasmas. O canto silencioso da treva apaga os rostos e o sono esvai o desejo produzindo um novo cadáver.

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