terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Coda de Odile

"estou aqui no escuro, ouvindo a chuva infinita.
como seria bom se você estivesse do meu lado..."
(para além de Salinger)

talvez não devesse, mas preciso ser preciso. assim: bisturi na mão. tocando o corpo. o meu corpo. dizendo disto que vive em mim. dentro de mim. preciso ir a lavanderia, mas ainda estou de cueca sobre a cama. abandonando ao sem desejo dos lençóis. abandonado a esta sombra que palpita. é meu pensamento que gira fazendo voltas, tempestuosamente, atravessando o limite de trinta e dois fouettés. você passa na minha vida num eterno glissé. talvez como karpakova deixe sempre à desejar. mas queria, assim, o teu beijo da manhã. largo e maestoso, antes do café. onde estaria você? tenho apenas 30 horas presas no mapa. o deslocamento é algo que se expressa sempre fisicamente. como posso pensar? não sou um cisne. sem tutu, não banco o nobre fantasiando-se de goethe mascarado de camponês. eu li "gautier, théophile" com meu corpo. estou doente agora. há a tosse, tosse, tosse. e o silêncio. meu pequeno príncipe não está ao alcance da mão. ainda terei o adiante da torre de marfim... iniciais gravadas na seda do robe-de-chambre na altura do peito. sempre há mais escadas para descer, mas só aprendi a subi-las com cortázar. eu não sei fazer promessas. eu apenas sigo logicamente estes signos abertos na minha cartografia. eu entrego, apenas isto. sem rosas ou laços ou taças ou exigências. um livro que se folheia como um corpo que se entrega ao abraço. o que eu encontraria no teu beijo? a catedral é ampla, os sinos é que ecoam ao longe. sempre mais, sempre ainda. eu aqui, à beira-mar do desespero, tentando te encontrar neste último raio de sol, talvez levando meu recado ao parque sarah kubitscheck, como num verso de piva. indo, como sombra na direção ulterior do sonho. eu insisto: me dá sua mão?

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