quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

a embreagem travou no meio do caminho. precisei andar, andei. o caminho era longo, joelhos doíam, mas que importa, se o real da vida é sempre o real da dor. não sabia mais. não conseguia pensar. sem palavras, a respiração era o que tinha e se escapava. o corpo falha. a noite vinha, a noite do dia, a noite na estrada, a noite do corpo. queria o frio, o frio da noite, mas era impossível. no quadrado mágico do sem nome, a vista turva, sem álcool, apenas mais degraus, sempre pra baixo. queria escrever como quem morre e se esquece. sem imagem, sem assinatura, sem rosto, sem esta necessidade de pontos e vírgulas. no sem-sentido do não-sentido. apenas liberando o corpo para os toques, teclas e cifras. poderia desenhar meu rosto? diga-me, o que lhe interessa aqui, em mim, nos corredores da minha biblioteca. eu sou mais mente que corpo. eu prezo pela mente, mais que pelo corpo. um corpo tem de ser leve para quem a mente possa pesar, pensar, pesar, pensar. todo o pensamento tem peso, para além das sinapses. há a dor no real. a dor que escapa ao desenho. eu que me escapo as palavras, como uma dor que fora do corpo do texto, não dói, mas insiste dolorosamente em se jogar às lâminas compostas de vírgulas e pontos. dilacerando a dor na dor que não preenche o corpo, mas a página da dor. a dor como um dado. como perfume e presença. a dor anônima de uma carta dentro de uma garrafa lançada ao mar.

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