quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Pare o barulho. Por favor, durma!

(Pulp fiction).

A mais bela coisa deste mundo
Para alguns são soldados a marchar
-Safo, em Para Anactória.

Meu olho esquerdo coça. Acabo de copiar sadicamente uma ilustração de Cocteau. Garoto, não assuste os unicórnios. Bem vindo a Rue de la Miséricordie. A cocotte Léonie é quem me ensina onde pôr as mãos para um mais de prazer. É preciso dizer que muita gente não me toma por homem de verdade. Se é que há problema, ele não está em Diadorim, mas em Riobaldo, então, Frederico, paciência… Garoto, você é gay, porque insiste em ir à missa nos domingos? Tira os fones, deixa minha voz falar mais alto que as batidas de um Cazuza ou de um Renato Russo. Sempre tem alguém nesta esquina tirando fotos, juro, palavra de mulher! É preciso virar o seu diário do avesso. Não entendo essas colagens que você tira da revista Veja. Não consigo ver nada. Tenho vagas notícias daquele rapaz, o do Cine Curitiba, você lembra dele? É, estamos entendidos. Preciso de minhas luvas de pelica e de uma máscara veneziana. (…Eu bem poderia morrer em Veneza, com Gustav…). O Hotel Atlântico ainda continua repleto de bofes e bichas, a administração finge que não vê essa de negócio de michê. Acho que não entendo e já estou cansado demais pra rezar antes de dormir. (…Ó Deus serpentecostal..). Não tenho medo do inferno, tenho medo de ficar assim, sozinho. Nunca gostei de Robinson Crusoé. Já me basta viver também em uma ilha. Quando é que alguns desses aí vão entender que um sonho de amor não precisa ser pago. Ambos sabemos que ainda ouço Roberto Carlos e Maria Bethânia. Como se chama aquela atriz, sua vizinha? Odette… sempre lembro do Lago dos Cisnes… ah, sim Odette de Crécy, mas ela é tão menos chic, é só mais uma drag queen que decresce na vida e se assumiu, enfim, como travesti Timóteo. Que nome, não? Soube que ela andou saindo com um cara espalhafatoso, embora carismático, meio dândi, mas casado, com dois filhos, bem à Freyre em Londres. Parece que de vampiro de corações solitários virou poeta em New York. Saudades de Manhattan, Keith Jarret no Blue Note sempre gritando com um espanhol fajuta “Bandoleeeeeeeeeiro”… Puta bicha! Preciso de um cigarro… ahn? não, é só nicotina mesmo, maconha era só quando eu ainda lia e acreditava em Kerouac, mas a gente envelhece. Você hoje está bem Maria Quitéria! Sem buquê de rosas nem flores do mal murchas. Nunca gostei de rosas. Estes tempos encontrei Giovanni, continua um fofo, mas parece que agora arranjou tempo per studiare la lingua portoghese. (…Hai d’accendere per favore?…). Paris, nunca mais, não costuro mais pra fora. Fico eu e meus gatos, felinos mesmo, em casa. Nunca mais usei meus 21 cm. Velhas estrelas também choram, sabia? Deve ser por isso que meu olho coça. Essa de sexualidades pós-modernas não cola pra mim. Sem salto-alto. Insuportável a madrugada. E como corolário os vizinhos do apartamento de cima estão fazendo sexo: e como ela grita! Se a coisa piorar ligo pra polícia e ativo uma Maria da Penha terceirizada. E eu que jurava que a loira do andar de cima era uma Luiza Homem… errei bonito. Tão naïve! Mulher à toa… meu closet está fechado para reformas. Close-t, idiota isto. Deixa de fazer estas propostas com tanta extravagância, controle sua imaginação. Sei que no fundo dos seus jogos não é a beleza que conta, mas a vitória. Isso é tão 12 anos. Prefiro certa sofisticação intelectual, não viajo em pé nos ônibus, vou ao cinema sozinho e não tenho encontros furtivos em campos de futebol. Não entendo pelo quê lutas, nós não vimos a ditadura militar passar e eu nunca estive nas forças armadas. (…Talvez devesse adotar uma criança…) Você apenas fala e repete as mesmas coisas. Toma seu chá, isto é um Earl Gray, a versão aristocrática de uma xícara de café. Se você prometer não fazer nada, nós podemos dormir assim… abraçados. E tão somente isto. E nada mais.

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