quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Um retrato da morte

(Não li Fidelino de Figueiredo.)

Este crime não é meu. Esta não é minha letra. Aquelas não são as minhas pegadas. Os poemas são meus narcóticos. Há um gato azul que sorri na minha mente. Eu vejo sua tatuagem em meus sonhos, mas ela é apenas um pássaro livre de sua gaiola, livre de sua própria legenda, ela não esta presa ao seu corpo. Você não esta na cena. Das, was etwas ist, wie es ist, nennen wir sein Wesen. Deixarias a cidade que tanto amas por mim? Entrarias deliberadamente no meu labirinto para matar o Minotauro. Não sou Ariadne, mas as palavras são como correntes que me prendem. Costumo beber o que café que preparo. Não tive uma valsa romântica aos meus quinze anos. Não gosto de poetas sórdidos, daqueles em que a poesia se suja com a vida. Que é este desespero? Faz tempo que não abro minha caixa de fotografias. É meia-noite, preciso de lembranças. Não me matarei, meus amigos, estou preso a um verso de Manuel Bandeira. Este carton-postal es una vista en Cuzco, son lugares muy bonitos… a imagem era um templo de Sacsayhumán. De Roma, o foro com dois gatos pensativos. De San Francisco, duas imagens dos cable cars. Believe it or not. Não quero pegar o bonde. Onde estará seu pensamento? Onde irei me encontrar contigo? Ou comigo? Eu não rezei na Praça do Papa, não fui a Mariana e não encontrei o rapaz da fotografia quando estive em Belo Horizonte. Apenas os corvos para nunca mais me encontraram. A Tower Bridge me veio sem nome e sem texto. Uma máquina de costura, de Curitiba. Un eté avec qui? Tantas letras esparsas e perdidas. Le désir te rend vulnérable. O que encontro no acumulo dos papéis é o meu tempo perdido. Isto poderia ser uma pergunta. Hyvää kesää! Eu não consigo mais dançar ballet. Greetings from Maryland! Eu me perdi. Não sei a direção. O que tomar… oh, céus. Nunca visitarei Helsinki, como talvez nunca consiga ler o “Kolme miestä veneessä”. Não consigo sair da minha ilha. Os cavalos não galopam nem mais em sonho. Te perdi no meio do meu texto. Groeten uit Holland. Meus brincos me incomodam, retiro-os. É quase uma da manhã. Tenho uma pérola cafona e uma caixa de fósforos com um palito sem usar roubada do hotel Renaissance, em Moscou, quando do seu 15º aniversário. É estranho comparar seu pé agora com seu pé na carteirinha de saúde. Tantas vacinas. E os registros? 24-03-88: 4 meses, gripe. 21-04-88: 5 meses, gripe. 11-11-88: 12 meses, um dia antes de meu aniversário e pneumonia. 20-07: 8 anos, não sei o que tive, impossível compreender o escrito. Em 28-05-05, vi o filme “A Cruzada”. Estava em São Paulo. Jogo de boliche. 14-01-06: Lages, diz o bilhete da passagem. Nunca tentei fazer música. Queria poder tocar mais notas, mas tudo o que faço me leva para onde eu não queria, não poderia estar. Se há alguma verdade, esqueça-a. São as letras como música em mim. Todas as luzes que me abriram o caminho estouraram e deixaram minhas lágrimas, minha sombra, um eu sozinho. Sei que fui idiota quando abri a porta, mas é por isso que agora caminho para o abismo, sem você. Ne m’écris plus. A embalagem de um chocolate. Não sei o que quero encontrar. Fecho a caixa. É preciso parar de escrever, esta tarde. É preciso, ao menos hoje, dormir sem ser esmagado pela sensação do nada.

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