quinta-feira, 30 de setembro de 2010

romance chaveado

para luiza ribas
& renata gomes

(Mais um roman à clé?)

capa negra. negra e luzidia. ana c. na delicada caligrafia. as páginas amarelas, talvez laranjas, diziam de um rosa mortiço. praça de londres. (mas estou, ainda, em lisboa). do divã finjo seduzir meu psicanálista, em toda sua arrogância francófona, ofereço meu sintoma ao desejo supeito deste olhar, tão alheio. codinome: katherine m. (...a white dress, a string of jade beads, green shoes and stockings. it wasn't intentional.). não mostro mais o nu do antebraço, no frio de lâmina deste teu gesto tresloucado, alimento, mas não me ofereço no piccadilly circus. Je suis une travailleuse du sexe, une prostituée, une call-girl, une escorte. jogamos no teu delírio soberano, entre os cachimbos e os charutos, quem aqui se paga, não sou eu. darling... não pulo as janelas. nunca morei na rua pinto azevedo, não sou uma garotinha "das suas", não sou de vila mimosa. te retruco na tua língua (desgraçado!). je ne suis pas une victime, je ne suis pas criminelle! o quê você não entende? sou garota bronzeada, copacabana, cinco estrelas e treze andares. sem assaltos. no divã: não barganho, faço isso, você sabe, você gosta. até saliva um pouco mais em determinadas frases. ainda agora sou profissional. teu divã não é torre de marfim, vem e mostra o peito nu, como que oferecendo-se ao sacríficio tão desleal de quem sabe trocar uma pura indiscrição por uma história bem datada. sua covinha na buchecha é tão (in)significante. isto é apenas negócio, pra ti e pra mim. então vamos rápido com isso? dá pra ser ou tá difícil? não preciso nem casar, sou capaz de tirar tudo de ti. sobrecasaca, gravata, camisa, cuecas e sêmen. presto atenção nos nasais: teu semên, meu hímen. sem imagem de flor: pólen. acho que é mentira e não começa. what can you do if you are thirty and, turning the corner of your own street, you are overcome, suddenly by a feeling of bliss--absolute bliss!--as though you'd suddenly swallowed a bright piece of that late afternoon sun and it burned in your bosom, sending out a little shower of sparks into every particle, into every finger and toe? sorria pra minha máquina, abra os olhos. para quem você vendeu seu tempo? abra as pernas, use a língua. tão menos que isso, me faça mais que meu motorista (... ah... osmar de dramas rápidos e intensos...). sem marcas. tem coisas que um cachecol não esconde e que luvas de pelica não permitem. sob signo de escorpião: londres: 1980. (caio saberia o que isto quer dizer). vamos fazer o que devemos, sob a pressão do momento, das sedas e das carnes, para que amanhã eu possa chorar que nem uma desapiedade no melodrama penitenciário, sentada na escrivaninha do quarto, depois da toalete. esquecer de comer, para não engordar. é tudo questão de dedos no lugar certo. de línguas usadas como se deve. trés chic. talvez possa até ficar considerando se não te roubo demais. "Oh, what is going to happen now?". faço descobertas óbvias e me espanto. você começa devasso e de repente dá coração mole, uma tremedeira tímida, não abre direito a braguilha. menino virgem, você? se não vamos deitar, vamos levantar que eu tenho fome. disfarço meu espanto que nunca vi. quando de novo? hum. toma suas notas daí, que eu falo daqui. insisto aqui. maquiagem sempre retocada na hora certa e devida. fim de sessão... but the pear tree was as lovely as ever and as full of flower and as still.

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