segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Largo da Alfândega

quem me carrega no ar, feito abutre, feio asas impossíveis. eu já estive no parque do ibirapuera, não a noite, piva ou mário, não sei o que se passa. não sei fazer compras ginsberg. sempre esqueço minhas listas. não me deito à relva com estranhos, nem mesmo contigo whitman. nunca sei o preço de nada. não sei o que vejo. logo ali. é preciso pagar o preço para entrar. é preciso gritar na medida certa, para que a respiração se acalme. não há gramados regulares. apenas o jogo de ladrilhos, pedrinhas... não me associo com os artistas e com os transeuntes. não páro o trânsito. a noite me traz apenas o vagar dos passos suspensos na noite perigosa. meu poema não é rendilhado e nem traz quadrinhas. não ofereço pão-por-deus. siempre a las cinco de la tarde garcia lorca. amar-te-ei então alguma vez? famílias inteiras nas compras. corredores. vendedores. gritos. como me perturbam os gritos. os homens de dorso nu, as mulheres de pernas nuas. talvez seja o verão. talvez seja os trópicos. a minha noite é interminável. és meu anjo? és minha flor de girassol? não acredito em anjos. (sem rasgar veias).nem mesmo nestes que grasnam em minha janela. há garotos que engolem a flor. não acredito no amor que lava as estrelas cadentes e se esfria numa ducha. o que resta são apenas as pedras, os meteoros no chão. no meu silêncio eu não sei se te sofri. há no entre-dedos palavras que não querem ser escritas. não quero estar ligado a este Desterro. sei pagar o devido preço. eu, a solidão & os gatos selvagens. para depois abandonar tudo ainda mais uma vez. não gosto das praias. é o relógio oblíquo e nublado da morte que faz se ouvir a cada passo, no fundo da cena, entre as águas do chafariz e o grito estridentes de espectros que não deveriam estar ali.

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