terça-feira, 6 de abril de 2010

Um crime

3h33.

o vento frio, o corpo quente, em febre. como pedir desculpas por ter te acordado de madrugada? vejo os ponteiros dos relógios se encontrando, mas parece que o tempo não passa. segundos, minutos e horas: tudo tão igual. eu acabei de tentar ler um outro tempo. não consegui. abri ainda mais as cortinas dos delírios e enviei para os sonhos, pombos, mariposas, aranhas, tecendo recados e grunhindo minhas mensagens dolorosas. não irei implorar uma resposta. não sei o que sinto no istmo de mim. qual carruagem chegará primeiro? quando sonho engolirá alice em seu pesadelo? 8 cavalos brancos são o suficiente para um príncipe? as cartas de baralho de nada servem, sou paciente, mas não sei jogar paciência. renego os dados, prefiro os jogos lógicos aos de azar. apenas nos teus braços eu corro riscos, no silêncio e no inaudito de tuas palavras. sei que dormes. as orquídeas enroscam o corpo de um e o enforcam na noite. uma dama inglesa sonha seus deleites de chuva e prazer. uma matilha de lobos orientais uiva para um céu sem estrelas. um francês ainda bebe em alguma taverna. uma senhora italiana embala seu bebê que chora. entre cascatas e quedas d’água um cadáver passa despercebido. (o meu coração arrítmico embala os teus suspiros noturnos, sem que o saibas - e eu sei que deliro). eu quero os meus livros de volta, aqueles que eu ainda não escrevi e te emprestei. não tenho tempo para tempos rápidos. adiaremos nosso café? minhas sedas, meus linhos, estão úmidos. minhas pérolas se perdem nas gavetas. preciso fumar, mas eu não fumo; apenas carrego um isqueiro negro, no bolso esquerdo, para te servir quando precisares. (sempre recusei minha nobreza). meus livros se espalham pelo chão, misturando-se com as roupas lançadas em desespero. um espirro sem tempo, apenas o espaço tortuoso do quarto, embriagado sem álcool o corpo balança. é a caveira. é a ruína. suor, calor, sem dores o corpo se cinde num duplo desejo. o externo se rompe, o corpo aberto acolhe sua imagem palpitante: a minha verdade é que eu te queria, com esta chuva, com este lamento, aqui, sem platonismos, sem necessidade poética, apenas de vida. a vida que eu não sei fora do tempo. suspensa na angústia que devora: um oroboro. quando a febre passar e for hora de acordar, minhas pálpebras dobrarão o mundo e um mar de luz oriental impossibilitara que eu te encontre no limite do sonho: já estarás acordado e, armado, teu relógio gritará as ordens e as horas.

Um comentário:

  1. e se diante de todas as obstinações procrastinadas por mim ainda decidas aceitar tudo o que outrora convalesceste, assevero que tamanha preocupação far-se-á distante; doravante, anos-luz daqui.
    muito embora esbarrões sejam comuns à noite quando a música infiltra em nossas veias e o álcool é uníssono, esbarrar em ti foi deveras insólito. diferente e unitário. espanto ao solitário que processava um fiduciário qualquer que emprestara meu coração.
    ab-rogo quaisquer decretos, proclamo o que nenhum sujeito indeterminado já conseguiu determinar. e quanto aos predicativos da história? os adjuntos adnominais confundem-se; e, eu logo exauro todas as duvidas num pedido de desculpa.

    prazer, ainda te lembras de mim? ...achei difícil esquecer teu sorriso.

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