quinta-feira, 15 de abril de 2010

(Heart the glass. Blondie)

O tornozelo dói. As tintas e a maquiagem se misturam para consertar um rosto que a noite digeriu. A dor vibra em cordas, nos pêlos da pele e dos pincéis. Não reproduzo mundos, não brinco de metáforas e metonímias, sequer construo alegorias. Fogos de artifício. Firewords. Os efeitos apenas como paredes de labirinto. Sem entradas e saídas, apenas movimento no movimento. A esfinge não faz perguntas, por isso o enigma é de impossível resolução. Eu não entendo o seu ritmo, não gosto de formas. Falo e escrevo como o mundo de uma ética impossível, neste espelho babélico em que penteio os cabelos e escovo os dentes. Não faço mais pontas, apontes e aportes. A aliteração é um jeito de forçar na letra o som. Bater, bater e rebater até fazer música. O meu espelho não tem fundo, raso como os olhos em que agora não passo rímel e não tranço os teus desejos aqui. O seu silêncio de cidade grande me inquieta. A tequila chacoalha na bolsa, as malas estão cheias. Possivelmente não leve mapas ou livros. Tenho medo das escritas em eu. Primeiras pessoas são sempre as últimas. Gosto dos retratos e dos dossiês, mas meu detetive se perdeu entre inglês e francês: fugiu com alguma canadense (improvável). Cansei, porém, de banca o analista. Apenas faço fogo agora e uso o carvão pra escrever no vazio das paredes. E simplesmente não consigo fazer que a imagem dance. As palavras como coisas letárgicas insistem na queda e caem no vazio, sem som, esticando uma voz que não há e dizendo do que não pode ser.

Nenhum comentário:

Postar um comentário