terça-feira, 27 de abril de 2010

os canos

(certamente, para andrea)

preciso escrever para não pensar. o barulho dos canos no fundo do hotel insiste crimininosamente. ''criminosamente'', um título interessante para um romance, não acha? deste silêncio sangrento, das palavras que se arrastam, das marcas de dente deixadas. 180°. eu só preciso de um sim e/ou de um não. não deveria ser difícil. mas é preciso decidir. eu tenho um punhal e não sei usá-lo. meu endereço atual é um quarto de hotel, anote: 113 Jane Street, New York City 10014. preciso que me procure, patologicamente. eu apenas devoro minhas notas aqui. os canos ainda persistem nesta esquina, escoando minhas idéias, entre vômito, sangue e muita água e ainda mais nas pessoas que passam. tudo se confunde. sei que estas aí, perto da ópera, do espetáculo. aqui, as dobras se acumulam apenas. eu preciso saber e não prescindo da resposta. os canos murmuram numa algaravia que eu não entendo. eu preciso parar de romper os colares de pérolas. eu preciso pintar o quadro, último presente. enviei meus mensageiros até ti. eles se perderam em algum lugar em meio ao mar, este mar pintado entre óleos e aquarelas. eu não direi eu te amo: ele só pode ser dito uma única vez, eu aprendi isso. eu tenho anotado isso: 12 - rue de Richelieu, Paris. velha forca, muitas forças. eu ainda insisto em não pensar, mas em manter esta sintaxe rumorejante, como que quer dizer que está aqui ainda, mas não sabe se pode gritar, mas sabe que gritar não responde, apenas esvazia o corpo. não quero o vazio do corpo. o vazio do meu corpo. o vazio do teu corpo. o vazio dói e dói criminosamente, como os canos que se enchem e se esvaziam repentinamente, nas madrugadas, entre montpensier e riverview.

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