terça-feira, 12 de julho de 2011

Noblèsse oblige

O silêncio é ensurdecedor, por isto escrevo. Hoje fecho minhas comunicações. É a ponta solta que me falta. Quanto tempo faz que te conheço? Ainda lembras quando te conheci? Eu sempre volto à mesma cena. O gole amargo de café. Trago as datas marcadas, mas não faço senha delas. O fato é que apenas eu soube e mais ninguém. Calculadamente. Penso no que poderia ter sido caso não tivesse lançado os dados. Caso não tivesse aberto o mapa, olhado a janela e me segurado um pouco demais no parapeito. Sem cair de um quinto andar, despenquei. É engraçado tocar o celular e dizer não, não agora, não de novo. E me engano. Não posso esquecer que tenho médico na segunda. Preciso dar alguns telefonemas também. Acordei meio Grinch. O menino sentado num banco à espera. Conto os desaparecimentos, reviso o arquivo. Uma xícara de chá, por favor. Há poucos minutos queimei os meus projetos, meus esboços, e isto não é uma figura de linguagem, fica o resíduo da verdade almejada latejando. Há um pequeno e apertado coração, mas ainda há. Acredito no que te disse. Marquei os pontos no mapa. Não tenho nenhum lembrete para amanhã. E se eu tivesse tido a resposta que esperava, o que faria? Um trocou os nomes, outro, os corpos, e tantos outros mais os olhares. Um segundo lugar para o esquecimento. Minha caneca de chocolate fumegante depositada na cabeceira esfria devagar, como a vida se esfria. No meio do deserto um cantor solitário ainda caminha para Ribla. Grifo: Jó 15,22. A noite escura, a chuva, o frio, a caneta como espada cortando a linha como se cortasse o pulso (“… porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura o ciúme…” - Cantares de Salomão, 8:6-7). Peço demais, bem sei. Meu corpo esconde meu Sheol, este lugar de onde não se pode fugir. Me exponho a este ridículo desdobramento sem formas. As definições podem ser muito contraditórias. Insistiria em pedir, mas não é de bom tom. O mofo aos poucos vai cobrindo as cores, a hera se enroscando nas vírgulas, é possível que chegue o dia que nada reste, nem cinza. A maioria das estrelas cadentes não cumpre os desejos, os pedidos e os desatinos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário