encontro um novo personagem pela rua, amarro-o numa primeira frase, o impacto na fricção desta primeira palavra, dou-lhe o trejeito, sempre fino e de gestos amplos, sempre mais pensamento que corpo, um corpo que pensa como pensamento que é corpo. depois do primeiro nó, a página... o esboço, as primeiras cores, aqueles amores, mas quase nunca eles amam. se desesperam. não seguro. primeiro parágrafo atravessando a rua. redefino, até não reconhecer o separado da primeira palavra à sombra descolada no reflexo. sua historia: tomo pela mão, a corda no pescoço, o evento. há que se ter um bom evento. ali quando a matemática falha. ipsis litteris. tudo tem acendo, tudo dobrado, tudo se agarrando nestes segundos erros. depois lhe encontro tom e timbre. ressoando na madeira com o infortúnio do relógio, mas é preciso perde-lhe, tirar dos olhos a venda, fazê-lo andar, que ele seja para além das minhas primeiras vontades. e brigo com ele. e tenho vontade de matá-lo. e assim é história o personagem me escapa, enquanto tento persegui-lo para prendê-lo numa gaveta, num volume pesado de mil páginas. mas ele é mau. eu, cruel. assim, ambos nos prendemos. ele ganha um nome, eu perco o meu. no desencontro o repugnante do impossível. duplo. contraste. passagem massageada por um tambor de 38 lançado ao ar. quantas balas? quem morre? sem definição a prova: revisão. vígulas, gramática... que nada tem de gramática na vida. sem frase. a vida só basta até este ponto.
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