sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

o não-previsto

prefiro ignorar o que acontece diante dos meus olhos. a escrita é fuga. tela ligada. tela: mil cores para nada. assim, sem poesia nenhuma. é o que eu não queria, ou queria, mas noutras circunstâncias, que acontecesse que acontece, mas comigo aqui. apenas penso. apenas isto me resta. pensando na cena e nem posso desenhar. não tenho lápis, não tenho papel. eu ainda queria descobrir este coração que eu deveria ter e não sinto. e tenho cabeça. e mil cálculos. as letras dão esse choquinho na mão. não consegui recriar o mínimo deste homo perfectus. não quero saber com quem você dorme. quero o banho. esfolando a pele, na necessidade higiênica do crime. não fiz nada. eu nunca faço nada. eu não deveria ficar apenas nisso. mas eu sei o que vai acontecer. eu sei o quê vai acontecer. o que diz a orelha do teu livro. eu tenho uma dedicatória que não sei o que significa. me conta teu drama que te conto o meu. meu divã destrói a chance deste reencontro. mas você opta por uma cama distante. e que não deveria ter aceitar. eu sou o psicanalista. meu drama é apenas voto de confiança. pura palavra. pura pincelada na maquiagem do semblante. denuncia logo teu crime. me diz do teu não. não me deixa na espera. não nasci para estar aqui: penélope tecendo seu tear. eu não estarei aqui depois de seus sete mares. eu não deveria lembrar, mas lembro. você não deveria volta, fantasma sem palavras.

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