quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Do que procuro

Aceito o tédio, o cotidiano, o mais comum dos dias. Sem esta premência de um dia que supere o outro. Apenas um dia: como o outro. Um dia feito de um “bom dia” e fechado por uma “boa noite”. Sem aventuras pequeno-burguesas, sem taças quebradas, sem o furor de uma paixão ao cair das horas. Um dia feito no dispêndio das horas. Talvez com algum sorriso. O quê você leu hoje? O acaso como o estranhamento dos efeitos do quadro. Um dia em que o corpo se esconde e envolve no corpo, na pele do outro, para esconder-se num sonho noturno, na respiração sonolenta, de um corpo que também se abandona a escuridão tangente de dois. O que te aconteceu hoje? Um dia em que não o igual, mas apenas dia feito em vida, na liberdade da vida. Sem exigências. Feito entrega, talvez com um beijo. Sem relógios atrasados. A gata ronronando levemente sob sua almofada. Sua mão sobre a minha. O futuro ali, ao dobrar da esquina. Um dia feito das minúcias do dia. Uma xícara de chá, um bom chá em boa porcelana, um livro, não apenas um livro, mas aquele em que os desencontros do tempo se acumulam e se amarelam como um álbum de fotografias. Sem evoluções. Um dia de pequenos prazeres postos à superfície, talvez nova, apesar das rugas, um dia feito para eternidade. No limite de si, desdobrado ao espelho, como numa cadeia infinita de séries também infinitas, um acaso condensado numa pequena palavra que surge no último piscar de olhos, antes que o sono venha, antes que o abraço afrouxe.

Um comentário:

  1. Muito bonita sua anotação, gostei!!=)
    Tenha uma ótima sexta..
    Abraços!!

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