quinta-feira, 30 de abril de 2009

quarta-feira, 29 de abril de 2009

GATO DE CHESHIRE

ele sorri com aquele sorriso transparente
entre o branco e preto da face de galã
- sempre sorri -
afrouxa a gravata
o linho marcando as linhas do corpo
ao longo dos botões de marfim
as abotuadeiras de pérolas
na contraface de um tom avermelhado
de veludo e desejo
sente-se  força das espáduas
o longinear dos membros em disposição oblíqua
e de través
sorri
através de mim
através do livro

Édipo

ópera do regime: o pai é tudo, está em tudo.  a ária secreta de agostinho que se move através do pai. ou uma outra maneira de dizer: quero o pai. enforcando a força, em reviravoltas, berrando, querendo algo do pai. marca o fim de si. ali onde o pai começa.  e se o pai está em tudo, tudo é o pai. é o desejo do pai. o volume oculto. as camisas abertas. botões rompidos. sem análise. a doença do outro. a doença do um. sem ser budista. a citara de cordas rebentadas.  o império de narciso: édipo cego sonha.  sem surpresas. sem dificuldades. a verdade sem se pôr entre dois deuses. uma corte: freud como pagem, lacan: nobre semblante barroco. camadas e camadas de maquiagem. o filho. o pai. incesto no fundo dos olhos com desejos latejantes na enxaqueca do pai. ali. no volume. entre o zíper. ali onde a fruta anseia o corpo. ali em que o espelho se perde. não é uma contradição. banir as regularidades é o gesto de quem não quer calcular. na clínica, um cadavér é aberto. na política, nada se abre. códigos se acumulam em um arquivo cheio de pó. o escritório do pai. as revistas do filho embaixo do colchão.  nec plus ultra.  é preciso dizer e refazer o império dos selvagens. l'amour du censeur.  o desespero dos tempos modernos posto entre chinelos de dedo. no fundo o estilo é decisional. e eu tenho a obra completa de calvin klein.  sem referências anuais. e fumo. cigarillos achocolatados à chanel. respiro. e o castrato continua. sem nada embaixo. com algumas oitavas acima. sem dó central.

Rose-cheek

                 Holding their course to Paphos, where their queen 
                 Means to immure herself and not be seen.

No fundo o poema é apenas um viagem
sem caminho
em um labirinto
que não há
e que se impõe
entre o aqui e o aí


eu te vi
assim de longe
assim de perto
tão perto
mas teu calor não me chegava
seu perfume não chegava
o tempo não corria
não havia nada além da imagem
de um pneu furado
e os fogos perturbados
de êxtase
desejo
um ticket
jogo de vale tudo
e teu rosto ao fundo
como mancha secreta

terça-feira, 28 de abril de 2009

dead

I died a thousand times.
overdead.

vagabunda

sorri:
reação imediata de quem vale
alguns centavos
por nada
e com três arranhões no pescoço
saca as luva
prepara a gilette
para um duelo
no peso das palavras.

tumba

a pirâmide delinea os restos do horizonte
fechado sobre o seu corpo o corpo de sol
no silêncio do nome
esta dor que insiste
nas cortinas fechadas
a janela que não é nada
nem sequer para este lugar de paredes lisas
o humor, a água, o ódio, o mofo
apregoado nas paredes
limando as almas
cortando os epitáfios
se inscrevendo agora
neste sozinho de morto
neste soninho de anjo
nesta fúria e força de demônio
esperando à espreita
escrevendo
últimas frases
capturando últimos suspiros
encerrando no escuro
o corpo de vagabunda
- Babilônia -
a beber o sangue dos justos
e de pés nos chãos
o vômito, os vermes, o nada
os pulsos que insistem
na veia azul que lateja
e quer o brilho metálico
de lua e de noite.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

conjectura econômica

o vazio perdido de puta
com unhas de plástico
vagabunda que não sabe
escrever
e não quer nada
a não ser o silêncio
e o punhal de medea
cravado nas costas
entre duas equações
e um número de telefone
meus deuses  cheiram à nicotina

ritrato R.


Feira de árabes

mil-e-um temperos
de vozes roucas tombadas
latejantes furando a crosta da pele
o cheiro de noz-moscada
em arasbesques de bailarina russa
os gritos que cortam
que batem
e reatam as dores
de uma arquitetura que gira
e dói
como compasso
entre as têmporas
engulo a possibilidade do grito
e o silencio espumante
doí ainda mais.

domingo, 26 de abril de 2009

Mercado Japonês

vendo meus orgãos mergulhados em bilís e raiva, ácidas gentilezas compradas em lençóis que não ajudam devoram meus orgãos. mil olhos esplêndidos na luz azul do quarto escuro. há um filme nojento. vinho à cabeceira. algo fede. a ânsia de fuga fede. a fome que me corrói e dói no vazio. a raiva aumenta em níveis carbônicos. furo os pneus do pensamento. rangidos de portas materializadas nas batidas indelicadas. perco um rim. a voz da máquina é estrangulada. o corpo móvel do orelhão, voz pública, não disca e diz mais nada. perfume mal-importado. o nariz quebrado posto nas gavetas com naftalina, formol. tudo para lançar alguma luz de colônia: l'eau de parfum. trevo de quatro folhas palmilhadas de mito. desejo de mulher grávida. escrevo criminosamente. sem velas. a agonia da vida não passa. reviro o fígado até encontrar a fervura. abro todos os pontos. cadáveres se esfacelam nas contra as estrelas do asfalto. um desejo sádico: lenha. é difícil conter o sangue que escoa na boca e a vontade de arrancar as unhas do espectro com os dentes. todas para nenhuma. três doláres. cinco euros. dez cents. documentos roubados. no porto a partida fica no encontro das peles costuradas pelo negro ódio que arromba as roucas madrugadas. olhos devorados por abutres digitais. mãos perdidas no e-bay. a pele salpicada de pontos vermelhos. acupuntura. cocaína. fome retro-viral. mosquitos. sentir a vida no interím de um universo pele dural. uma libra de carne que se envolve em saco plástico azul marinho cor da noite que é coisa noite feita à noite para descer alguns degraus no corpo vazio. as orquídeas na janela. arandelas repletas de aranhas. o ruído. três apitos. uma martelada. vendido.

sábado, 25 de abril de 2009

não ler as primeiras palavras
confusas nas últimas músicas
meio empregado
meio artista
entre as folhas
deitado
o corpo surge
e se desfaz
a escrita como necessidade
a obra, fisiologia,
de resto
apenas a morte

sexta-feira, 24 de abril de 2009

My dear,
I'm a bitch without owner
 a whore without men
 with a cat's heart
 sharped claws & a hot tongue 
I'll stick you in my niples:
tattoo by my teeth. 

some love, 
Lady Disdain

 ps. Meow!
_____________________

segue com auxílio de Ibriela e Renata.
Querido,
sou uma solteirona daquelas
gata de coração
unha à unha
viril e sem pretensões
sob  mirada frívola
furiosa
mas, docinho,
sei com todos meus bigodinhos
que te devorarei
todinho.

com amor,
Srta. Desdém

ps. Miau!


Mon ami,
je suis une vielle fielle
feline par coeur
griffe à griffe
gendarme et bonne femme
sous le miroir frivole
...vaniteux...
mais, coucou, je sais avec tout mes moustaches
que je vais te dévorer.

avec amour
Mll. Mépris

ps. Meow!
indo indo
ando ando
no gerúndio
com marlonbrando

quinta-feira, 23 de abril de 2009

bitch

estético
extático
movimento de piscar os olhos
farolfaroleando
para secar o rímel
indecídivel
e engolir
no seco
o beijo não pago.

estão jogadas as luvas.
estão roubados os dados.

eis o ponto.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Dialética

Confúcio 
Confusão

POST-IT

o salto não serve mais
favor trocar dois segredos
esconda os restos da unha na gaveta
junto com
aquele pesadelo ainda não usado
espero
quando voltar
o silêncio das geladeiras
com um sorriso anônimo
chove. período simples: de chuvas. algumas coisas batem e rebatem na página - pingos na calçada. há o cansaço, a fadiga, a vontade de não mais. cada rosto numa comunidade impossível não é e nem quer ser mais. comunidade de poça d'água rasa. podre. a escrita que une as faces, esconde na própria tinta o verme, o roedor. toda minha maquiagem está gasta. cultivo algumas páginas que não querem crescer, as minhas flores não dedico a ninguém. quisera ainda escrever um bom epitáfio. todo bom escrito tem essa função: servir de epitáfio. o quebra-cabeça ainda não está montado, algumas insubordinações insistem. conecto. quero vender minha alma, mas o diabo não me procura.a televisão palpita. telas. telas sem tinta. que horas podem ser agora? a escrita insiste. o corpo irritado não deixa. estico as mãos e as esqueço lá, escrevendo, enquanto vou ao banheiro e vomito as palavras trabalhadas nos floreios e costuras milanesas, venezianas, turcas, japonesas. procuro na gaveta aquilo que me tornará indiretamente um objeto: preciso das luvas de seda. nada de poliéster. se é pra ser cadáver, exigiremos o último triunfo da ruína: o auge. não queria não atender, não queria dizer tantos nãos, mas o eu se impõe e quer como coringa fazer jogo sujo nesta mão de opções. nenhuma dama. não conto os reis ou valetes. três ás. o champagne mesclado ao absinto dá o tom e a cor da noite, as pérolas dissolvidas em ácido regadas com pétalas de rosa servem-me de comida. recuso diante da oferta, o caviar. sozinho à mesa, espero o cartão do cavalheiro. sem longos, sem diamantes, orelhas nuas.talvez uma fantástico acordo entre russos e franceses. a orquestra toca no escuro. o tenor falha. a soprano é somente a sombra do vestido branco que usa. não ignoro que o moço do violoncelo cochila. escrevo um lembrete em um guardanapo. despacho o garçom com uma incumbência secreta. retorno ao banheiro. relembro o rifle no meu porta-malas. ópio. a soprano insiste irritantemente numa ária que desconheço. o maestro japonês tem um ar tão tão tão cubista. ainda chove. procuro meu lenço. as cadeiras vazias. platinum card. um agente duplo. abra o porta-luvas, há uma caixa de lenços ali. james? o teste final? a cama, as peles, o frio, o corpo, a alma, a chuva. a assinatura no canto direito como sinal de ligeiro acordo.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Rendez-vous

sous le son de J. M. Jarre
...histoire d'une nuit possible...
(Quelle histoire attend là-bas sa fin ?)

Il faut, voyez-vous, nous pardonner les choses :
La sottise, l'erreur, le péche, la lésine,
Depuis huit jours, j'avais déchiré mes bottines
De cette façon nous serons bien heureuses
Et nous alimentons nos aimables remords,
-Celle-là, ce n'est pas un baiser qui l'épeure!-
Que notre âme, depuis ce temps, tremble et s'étonne.

O sexo e a cidade

armando uma relação dolorida alguns personagens entraram num carrinho feito de grafite (grafite, ouvi dizer, é o passado do diamante) que no futuro valeria alguns pouco bilhões de alguma moeda então em alta (se então não formos comunistas socialistas coisalistas museualistas lisístradas lisestradas) e nas estradas fizeram sexo nos mapas enrolaram baseados no limpador traseiro puseram a mão com fome muita fome que não se saberia dizer realmente em que pé estavam não se pode afirmar que não se conheciam - um entrara mais do que somente e apenas na alma do outro muitas vezes que a alma já macia se esquecia e se aquecia neste galho alongado em que mãos e dedos tocavam e trocavam o passo da marcha sempre para mais adiante para além do paraíso (faziam câmbio com os anjos) a fumaça corria são francisco pervertia santa clara envolto por um grande arco-íris e isso não poderia ser heresia porque isso era bom e o bom não pode ser pecado cochichava sr K entre as coxas do sr B tentando como adão e eva fazer nascer sua geração de homens-bestas ou bestas-homens e demônios sorrindo pediam mais do que paz e amor (sempre se deseja demais): apenas um pouco de sexo, uísque e literatura - sr G dirigia as coisas com ar de quem sabia muitos números de telefone para as muitas noites sem sono e sorria quando a mão do carona lhe abria o zíper - sr L ? sr C? sr abc? - não importava - importante é que havia uma mão ali como sua mão na direção enquanto uma mão movente dirigia o corpo outra indecisa entre ascender aos céus e descer ao infernos subiadescia e dirigia a alma e seguiam fumaça à frente, radioativados pelo álcool que envenenava a lataria e o esqueleto do possante macho com cheiro de macho carregado com um sorriso james dean e um jeans surrado que sempre teimava em seduzir no reflexo malformado de um ray-ban.

domingo, 19 de abril de 2009

Ev. Brèal

poderia escrever um acróstico
observando a partir da linha
das costas
o desenho que se forma em mim
e neste canto
encontro de paredes
delinear nas vogais um número
de mim
e contar nos eus
de uma poesia heliocêntrica
que cavalga nas ondas
de um amazonas longíquo
a imagem é bela
mas o real nela perdido
não sei
e tal qual Narciso
preso no espelho
assinalado, talvez, um último suspiro
e declino
do convite
as taças, a festa....
fecho as pernas
esqueço-
nas cruzadas
e com a mão na cruz da espada
respiro
e morto
ainda me insisto vivo

Assunción

a ponta do meu pé
a sapatilha do meu ballet

despojos

como dividir em partes iguais o que não se vê
insistindo na necessidade de simetria
do desigual
fazendo a partilha
em poucos parágrafos
de leis e testamento
distribuindo o sangue da guerra
nas frases frias e feitas
sob efeito de algum narcótico
que não interessa o nome mais do que o efeito
lido nas páginas de alguma estrada marginal
vendo nos restos aquilo que não foi divido
mas sem querer restaurar no mapa
a cidadela de reis e rainhas
que jazem como pó
misturado as areias do deserto
desejando uma assinatura
numa lápide
em país quente
como os lábios da morte
sem nome

sábado, 18 de abril de 2009

miserables

opera
silent
no agudo do acento
proibido
reitero
nao grito
espero
aguardo
a maior nota
ecoando no fundo
deste corpo
violino sem cordas
voz sem cerdas

sexta-feira, 17 de abril de 2009

porque o melhor poema
é aquele que sempre
se perde

Depressão de Luxe

entre os cálices de champagne
as pérolas rolavam
flocos de neve sob a madrepele de concha virgem
nos olhos o fundo rasgado da maquiagem noturna
assinada por Lancôme, Dior ou algum homeopata da esquina
e como sombra dobrada e posta no bolso
de trás da calça jeans
rescostada na cortina que ocultava a parede que continha uma janela
que se rasgava toda pra um ponto entre torres
entre Paris e NY
em um ponto que se perdia e oscilava
(um poema que se perde)
e se varria
e como jato
dejeto pessoal
corria
neste campo aberto de ponte aérea
e chorava os brilhantes comprados
ainda no seu veludo vermelho
de sonho e sangue
e na fome que tinha que não ter
copava os lápis e copiava as taças
e em gestos amplos
diminuia
cada vez mais salgada
mais morta
no mar de diamantes
flácidos
e assim na vazão da banheira
entre os barbitúricos e o whisky
sua alma adolescente de 14 anos
num corpo já.... já... agora... e de novo...
o vinho se misturava com o sangue
os olhos bobos com a baba de moça
e sorria
despencando
sôfrega
nas palavras suspensas.
jogar com o fantasma
é muito mais simples
que encontrá-lo
entre as ruínas
de uma estátua sitiada

Ritrato-Machine

quinta-feira, 16 de abril de 2009

eu vejo teu rosto
perdido
aqui entre algumas palavras
escrevo por tédio
por insistência
por método
com caneta-bisturi na mão
cortando
cortando
me cortando
e sumindo

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Mil movimentos fazem uma imagem

Desenho tua cara
calmo o osso
faz profundos os teus olhos.
De música pus
Bach
no ar cheiros de verão.
Qual
o osso apoiado na carne
conheço
te conheço nesta música
no suor
             e minha sede.
Os outros galhos
madeira para sombra
formam 
escuridão.

(23 de setembro de 1961 - madrugada)

Uma explicação enquanto caminho

Me disfarço de canibal
de peixe de pedra escura
alço vôo e caio
adormeço em meus próprios braços
me perco.
Pra que tantas formas
tantas viagens.
Uma  fuga através da existência
mil corpos para não morrer.

(Outubro-setembro, 1960)

Caterina de Médici

Firenze, ainda que fosse sábio
e centauro como o velho Quíron
não te diria
estas palavras
perdudas entre Auvergne e Urbino
não te dedicaria estas poucas letras
cartões de alguns séculos
de perucas, saltos e sedas
nem sequer lembraria
que de tudo a tudo
o emblema de tua imagem
tendo o corpette do fugidio buso
apertado
por mãos demoníacas
inda que celestiais
e refulgirias
naquele brilho de constelação oculta
pela chuvas e nas trevas
destes, aqui, olhos densos e futuros
de ampulheta quebrada

domingo, 12 de abril de 2009

trono vazio

quero traduzir um velho poeta
numa língua desconhecida
mas as letras
fotografias de mim
não me servem
escriba para nada
hierofante de vãs idéias
cujos borrões
cerceam uma última floresta
que se quer tropical
chuvosa e derradeira
entre os jarros e colunatas
de fantasmas
a mão que insiste
é sombra de um hieroglifo
paranóico
que resta junto ao pó
do trono
roubado

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Ballet de Circe

Medéia pinta os olhos diante do espelho
quanto vale 1/2 de si
há Tres tons acima da pele
as muralhas da Trento vazia
ressoa, rubro de vergonha,
em ré maior, caminhante, o Magnificat
para sacar em algum movimento
- movimento latejante de luz e ar -
o movimento do gato suspenso
retirá-lo do pulo
do salto sobre as palavras
...Nunc et in hora mortis nostrae...
o máximo para o máximo
sem testemunha
platéia vazia
a poesia enquanto cortina porvir:
a bailarina respira
aperta os laços
diante da luz
fecha os olhos
e sorri.
viagem santa
corrida na chuva
compras
decisões
sono
in-somnium
alguns goles de absinto
e a tentativa da
verdade

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Improviso II

improviso I

Trompe-l'oeil

au-dehors

Se minha vida fosse poética
até Sapho dedicaria suas páginas

M.A.

gourmet...
marron glacé...
quem trouxe bala
e nao me deu?

terça-feira, 7 de abril de 2009

Vila Rica não é Florença,
pedra-sabão não é mármore,
Aleijadinho não é Michelângelo.
é o que resta.
a Beleza
a única violência
de mãos nuas
que ainda tem 
até debaixo das unhas
preservada 
sua pureza
faço rápido
penso mais 
rápido
atrop'lo a língua
aqui
dentro d'mim
respirada
virgulada
queria tanto 
neste interím
neste piscapiscando
veloz
adversáriamente
me resta apenas o 
mas

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Espelho

um lenço de seda
molhado de fina champagne
tem o perfume e as cores
deste olhar
colado
ao meu retrovisor
e em fina caligrafia
desenhas nas curvas
a quina
quinta parte desse movimento
insuportável
mesmo para anjos

sexta-feira, 3 de abril de 2009

sobre o corpo
distendido o bisturi
a mão fria toca a mão exangüe
excede o fogo azulado
do metal
seguindo os traçados sobre o corpo
os tratados de desejo
descobre nu
sobre a bandeja
asséptica
na ausência da prataria
uma cabeça
disforme
com luzes em néon
abstratas
psicodélicas
arranjadas
como música
prontas para explodir
à primeira idéia

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Bridget Jones

por que gente triste come chocolate?

poema-presente

a Felipe V. Reis

palavra dada como raiz
entre laços
furta-cor
desta foz
deste lugar oculto
que chama e apresenta
chega e abraça
redobra nas ondas
a dúvida
ao mar soçobra
com as horas e datas
com o virar do tempo
com a mudança do vento
fenda
com que sombra paira
nas letras
no pó
e persiste
como verde
fungo
- parasita -
na existência