quarta-feira, 13 de maio de 2009

vinho. água. sede. muita sede. tanta sede de mim. desta janela em que os carros passam convidativos. ao longe. três andares acima. tomando sopa quente. a sopa quente do inferno. um amigo insiste: há um caminho. na janela em que entreolho o poema, não há. há a esperança da força na sopa. algumas palavras. uma falta. a velhice que dói. a biblioteca que pesa. pesa muito e com força e raiva. de coxas fechadas. quase nu. escrevo da nudez da janela. soupe à l'oignon. água. sede. cães ladram as cãs e vãs dores prematuras da madrugada. sem ladrões. o cartão corre levando um nome e tirando todo o dinheiro. deveria ter dado uma resposta. mas ainda dói. o martini adocicou baratamente os lábios e sequestrou o desejo pelo par de óculos. a sopa queima a consciência do inferno. página eternamente em branco na procura do último suspiro de fuga. cigarro. fumaça. o que insiste dos pulmões contra o resto de brasa. brasa de quê? este fogo que se ausenta e se marca numa arquitetura que sem voz em um último momento fala. fala de mim p'ra mim. a voz que quero. como chegar até lá? os mapas se desdobram em filosofias de engrenagens. há a imagem do rosto. belo rosto. dor no peito. fumaça. martini. tosse. vinho. ardência na garganta. cigarro. cigarro. cigarro. a sopa esfria como a vida. corpo que se expõe na janela. nenhum carro. nenhum preço. a aurora luta com a estrelas - o anjo de jacob dá a última palavra. resta à espreita a espera do sono. o cadáver almejando um corpo barroco longíquo num tempo futuro que se aproxima.

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