terça-feira, 19 de maio de 2009

A esfera do crime e o tempo da dança

Tu viens d'incendier la Bibliothèque ?

- Oui.
J'ai mis le feu là.
Victor Hugo - A qui la faute?

O que difere Madonna e Beethoven? O que têm em comum? Como passear neste espaço em que o corpo se põe para além do corpo e que no final não interessa senão como o vazio de sua própria suspensão posta num amanhã que é o amanhã do dia para morrer? Em um filme, que não importa agora, a cena se arma na impossibilidade de dançar Beethoven. O personagem, que deixo aqui sem nome, afirma: Madonna se dança, Beethoven não. O que se quer aqui é pensar tempo, ritmo e movimento no limite do corpo, ali onde o corpo falha. Onde o corpo não se sustém. Onde a perna não sobe. Onde Nijinski se torna impossível como o cometa que anuncia o apocalipse. Never more. Não agora. Como fazer a dança como um cinzel de Rodin? Como capturar a possibilidade de falha onde só há falhas. E se o ballet não puder se deixar como pas de résistance em que toda pirouette à la seconde esconde mais que um verso e o reverso de um passo que só espera pelo próximo passo de uma sintaxe que é posta como fantasma no fundo da retina que detém todo o poder de uma verdade que não há no corpo que dança. Analyse this. Escrita em cores = escrita de luzes. Coreografia. Coro-grafia. I'm gonna break the cycle. O que resta é o choque de séculos como o choque do braço que cabe no seu movimento. Indigência. I'm gonna shake up the system. Impossibilidade retórica do corpo sem maquiagem. I'm gonna destroy my ego. A dança mata o corpo para no corpo assim capturado nos seus dínamos se suspender em arcanjos e impossibilidades líricas de violino pausado em passeios... en promenades. I’m gonna close my body now.

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