uma parte de mim insiste em não querer que o fundo do lago se veja como espelho em que me perdi e m'encontrei, mas, mas, mas... eu sei que sinto uma dor no centro de mim, palavras que escorrem geladas como saliva pelas costas, gemidos obscuros e silenciados que ficarão apenas como gemidos silenciados se e somente se puderes fingir que não me lês, afinal ninguém lê... mas como esta outra parte de mim que grita do fundo do lago, presa no espelho, com uma maquiagem malfeita, alma meio grega, alma meio demoníaca, oriental nos gestos e afetos, que sabe, mas que nem insiste, que vômita nas flores do jardim três estacas costumazes de ódio, cemitério das lembranças... essa parte mulher, esta contraparte homem, esta pele de anjo, esta alma vendida nos revezes de um banco de praça, sempre deserto, como letra deixada como assinatura desconhecida, terceira parte de mim, divina como espírito, como triângulo místico de bermudas, tênis e olhar lascivo, que te olha e te devora enquanto dormes e não me lês, mas insisto num recado vazio, que é apenas retrato dessa alma de mão, mão que se usa, que se rouba, que mata, se afasta, como cutícula das unhas, que arranha o pouco real de mim, me joga na cama e debaixo dos lençóis que uso com os ventiladores para deixar o frio um pouco romântico e fazer o calor, o quente desse corpo prevalecer, assim, meio que substancialmente unindo as lâminas de mim num reflexo sépia e cor de nada, nem branco, nem preto, mas vazio, que fica quando a alma se encolhe diante do medo do vulto do futuro escrito em um carta em que o envelope resta selado... selado... com as celas e chancelas do medo trancadas, tanto em carta quanto em letra, para que não fujas eu de mim e almeje por um último vislumbre a fuga do corpo para sempre além destes lençóis, da noite, do frio forjado deste sorriso amarelo.
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