o rapaz que me seduz tem um dragão tatuado nas costas. belo dragão. eu trago um número no pulso. as batidas de um coração roubado. uma biblioteca perdida. fantasio com ele por entre minhas prateleiras e coxas. os livros me olham. bovary sorry. greta levanta, deixa o homem ereto, solitário, puxa-lhe o nó da gravata, esconde-o de ser capturado pelas referências. marilyn arranha a porta em desespero. domino meu ômi. não o quero por muito tempo. quero poder arrancar seu dragão para meu abajur. como seria belíssimo tê-lo. devorar-lhe o fígado, com calma. tenho febre de mim. Eu devoro os próprios sonhos das línguas perdidas. babel é luxo inalcansável de tantas línguas. quero o corpo tão alheio e prostituído do poema. cada hora um singular, mas o mesmo impessoal. a delícia do toque. tacto. do pão com manteiga nas manhãs de domingo. com o afago de uma mão cortada, roubada de um estranho qualquer (acho que ele se chamava, a si, de baudelaire, mas era tão franzino e sem graça que, somente, fiquei-lhe com a mão, o corpo, dejeto, não se aproveitava). abandonei-o. com o dragão. dei-lhe a mão na face. queria o outro, o sempre outro, que não precisava ser novo, mas tinha de ser outro. mas não, não havia o toque, a tecla da verdade. havia sempre o mesmo jornal velho trazido todas as (mesmas) manhãs pelo mesmo muleque imberbe. no fundo eu apenas me queria. corpo impossível de ser possuído é aquele que se tem de dar ao outro. no fundo devorei minha própria Quimera. mas tenho belos abajures.
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