sexta-feira, 17 de agosto de 2012

para o menino que vê estrelas

não toca meu corpo, nem mesmo com o peso de teu olhar. procuro o celular, perdido entre os lençois, e esperando algum sinal desvio a resposta. talvez seja hora de aguenta o silêncio, suportando esta lasceração. meu corpo pede o ballet um pouco mais, mas o adágio não vem. a mão suspensa chama o gesto que não lhe alcança . acreditando nos infinitos, erro no infinitivo. meu desejo é simples. tua presença aqui ainda. talvez um abraço. talvez, passante baudelairiano, sua sombra apenas fique no "aquele que eu amaria". sou pessimista por cuidado e sobrevivência. sem cinismo. e me sinto como verlaine observando rimbaud escrevendo. toda uma inocência em tomada selvagem. e me restam os soluços graves e violinos suaves. e choro, quando ouço, ofegando, bater a hora. preciso sair da cama, vencer este primeiro muro de berlim, derrubando isto que apenas fica na gravidade e faz o corpo pender, aprisionando ao travesseiro a mente sem deixá-la dormir. talvez tudo volte. mas nada volta.  talvez você saiba, mas eu sei que você sabe... então não há nada a fazer. entre o dito e o não-dito, quanto vale o escrito? fui eu quem te apresentou os versos de adília lopes ("...hoje quando penso no rapaz penso em estrelas e quando penso em estrelas penso no rapaz..."). mas a mecânica dos dias segue: é preciso manter o pulso, as pernas torneadas... a sombre de desejo que inexiste em mim e existe presa entre os pêlos imposta por este teu olho faminto (que já não me vê). e há a louca para ser limpa, camões na estante me faz repetir em versos desconexos a cadência assombrosa. ("se dizem, fero Amor, que a sede tua  nem com lágrimas tristes se mitiga, é porque queres, áspero e tirano, tuas aras banhar em sangue humano"). e sigo...  entre cimitarras cibilantes. há o café,o quente conforto... o peito do pé esfolado (ainda). tu poderia almoçar comigo? sei destas coisas de haute cuisine e que poderias gostas.  e te digo para ler um livro e me encontrar nele (mas até eu mesmo tento te ler para encontrar o resto de ti ali, na tua caligrafia). dialogamos em silêncio, no balanço do ônibus, esperando o ponto final. quem vai descer primeiro? fico nu na cama. chuto tudo pra longe. esqueço meu nome e não assino mais nada (preciso abandonar os estudos de hegel).  e tenho tantos livros pra ler, esta minha londres de páginas amareladas, esta paris devotada em papéis esparsos. talvez eu esqueça... talvez não.
 

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