terça-feira, 18 de outubro de 2011

a quem interessar possa

é um pouco demais, este sorriso que se abre devagar como uma janela que se abre deixando vislumbrar os cômodos e algum vulto. eu tento me esconder há tanto tempo, tanto tempo, mas é sempre você que sai de diante dos meus olhos. ficam os retratos nas caixas de recordação. não tenho tanto dinheiro assim, mas posso desenhar a nossa casa futura, como se eu realmente soubesse desta possibilidade de amanhã. aquele balanço onde juntos estaríamos lá e cá, sem sair do lugar, sem precisar correr.
os lençois amarfanhados, vazios, não dizem nada.
meu codinome é sonho de valsa... para as nossas quedas veladas de fim de tarde.
eu não sei fazer arte, esculpir, finjo muito bem e com tantas palavras, como um perfumista que sabe e domina um único odor, pianista de uma única nota: dó.. porque tudo dói em mim e meus dias não fazem sol maior.
não sou um místico, apesar das histórias que o tarot me conta. das histórias que estranhos sempre me contam, sempre precisam que se ouça. mas alguém é capaz de ouvir esta voz que insiste aqui? não, não dá mais. eu não sei o que posso fazer por você. talvez apenas sorrir e acenar na varanda, como começo do caminho.
ainda penso no meu presente para você, numa pequena canção, entre os suspiros e os sustenidos. o aperto de mão secreto no cinema.
o que você contará ao mundo, sem esta nossa canção, talvez minhas coisas e desejos sejam simples demais, mas não os consigo por em palavras. nada ainda está terminado. espero que não se importe com este meu quebra-cabeças tornado texto. meus sussurros se prendem entre as vírgulas. você é capaz de ler aquilo que não consigo escrever?
me sentei no telhado mais uma vez, perigosamente, neste meu complexo cirque-de-soleil... de subir e me lançar... machucando o tornozelo como em belo horizonte.
eu não sei definir uma vida maravilhosa, talvez nunca tenha aprendido a colorir direito. meus pinceis não entendem as cores. tudo monocromático e monossilábico. mas eu espero. o que poderias insistir ainda? talvez um pequeno retrato para guardar na carteira. eu só vivo depois do pôr-do-sol.
mas me perdoe se eu ainda escrever de novo e insistir nisto, se as mesmas figuras retornarem, mas é isto que eu faço. mesmo sem saber. perceba que ainda não sei dizer se suas mãos são quentes ou frias, se tremem... se me olhas de frente ou com o canto dos olhos buscas lateralmente alguma escapatória. preciso que aprendas apenas o meu mote: Malo mori quam foedari. não gosto de carpe diem. qual é a cor de seus sonhos enquanto dormes... como dormes... estrela do mar....
aqui estou eu, malas prontas, a encruzilhada, o musgo que ainda se agarra a página, um coração que pálidamente se inscreve perdido no deserto. eu ainda sei esperar.

2 comentários:

  1. seus textos...belíssimos, belíssimos mesmo. me fizeram esse acorde

    Fico no ar entre tuas vírgulas esparsas e sei que a queda é um tanto isso que habita em mim e...
    de tudo isso essa frase repete em meus ouvidos e eu ouço seguidamente : você é capaz de ler aquilo que não consigo escrever? a quem endereçar possa e há quem possa se enganar sobre o destino. Me perdi entre o som do violino que toca e os passos da roda que refletem uma imagem que só eu posso ver,um outro sonho para além do agora,onde esse alguém em mim está. E o único nome que posso dizer perde-se na incomensurável saudade .

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