segunda-feira, 10 de outubro de 2011

pés nus.

é daqueles dias, você dorme tarde, descobre algo escondido entre os travesseiros (um bilhete, duas lágrimas, nenhuma escrita). passa ao largo com passos rápidos. uma nuvem negra no horizonte. tudo para chuva. tudo leva a crer na chuva. mas ela não vem. o corpo espera. esperar... esperar... penélope eternamente em sua janela olhando o mar. os carros passam, quem sabe? quem sabe pintar o rosto, marcando os olhos, escondendo as rugas laterais, ali onde o tempo falha, insiste e dá defeito. alguém, segurando uma caneta e respondendo exercícios, pensa que sabe de minhas crises. eu queria a imagem tocada por um campo de tulipas. meu van gogh read... readaptado... me encontra, 15 horas no café sperl? como te dar um endereço, é impronunciável pra mim. esta coisa bárbara, certeira e rascante. copio nas costas de um cartão qualquer e te entrego Gumpendorfer Straße 11. fácil de encontrar. traga um charuto pra mim, meio torto. preciso atropelar esta pequena rebelião, esta coisa de cortar cabeças, esta guilhotina que me picota a ponta dos dedos, as pequenas verdades e os desejos. meu corpo não fala mais. apenas reclama. meus pés não aguentam este calor, estas horas elásticas, este excesso de luz. Kunsthistorisches. longe dali, alguém sorri, sentado sozinho no café de turin, olha o mediterrâneo que se confunde com o verde dos olhos. não gosto desta nudez excessiva em que o corpo se mata, se suicida e se vende. meu mundo é feito de curvas ascendentes. cognitivas ascendentes. e eu aqui, o mais perto: café das sete. horrível. horrível. não consigo mais escrever, tenho apenas aquela pergunta: como se suporta o impossível? meus pés suam mais que minhas mãos. isto nunca me aconteceu. queria correr tanto, gritar, gritar, gritar. mas minhas mãos estão ressecadas pelo giz, meus pulmões fracos, minha boca tem uma flor em sangue. não tenho mais voz. é preciso atropelar o caminho pelas calçadas. é preciso desmembrar a vida, numa banheira, gilete e coxas: assinando a obra num filete vermelho. talvez eu só consiga sobreviver com os livros. mas as páginas hoje me vomitam. minha cama esta bagunçada. não houve luta. não acredito no amor. sem deuses, nada invento. nada encontro. in-venio: palavra engraçada. redescobri minha palavra predileta: convescote. todo mundo tem sua palavra que não é só uma palavra, mas um conjunto de sons graciosos e um mais de imagem, pele, sensibilidade que escapa a lógica. adivinha como a escolhi. foi andando assim, a procura de um café, sentando ao meio-fim, procurando trevos-de-quatro-folhas e os encontrando, não fazendo nenhum pedido, o que é uma gentileza com o futuro. não desejar. estendo a mão. quantos quilômetros me separam do palácio noturno de marte? não, eu não vim de vênus. não tenho um coração de veludo verde, veludo não se adequa aos trópicos, não gosto de verde. não sei escrever. não posso ser escritor, se minha vida dependesse disto, de organizar, de dizer... eu nunca tenho nada a dizer, mas sempre tenho coisas a perder... o celular, aquele desenho, um olhar, o ônibus, a hora, um sapato. um bilhete de espera e espreita. eu não aposto, mas sei blefar com as caveiras que riem excessivamente silenciosas com seus olhos vazios. sobrenome: crisis. as palavras cruzadas se perdem, se encontram, tantos quilômetros. você estará sentado tomando seu copo d'água? seu corpo fátuo se perdendo entre almofadas. um pôr-do-sol de maquiagem borradas, no golden tulipe, com as areias do cairo, sem segredos. sem caracteres. apenas a cicatriz cortando o reflexo de esfinge dos olhos negros. não é preciso vencer a crise, mas esperá-la passar, como quem atravessa o seu próprio deserto de pés descalços.

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