quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Um tabuleiro

"...uma luva foi lançada como duelo..."

Tudo não passa de um jogo plausível. O cavalo movendo-se rapidamente esquece seu cavaleiro. Não posso acenar. Não posso borrar o rastro cego. Minha dama à espreita tem as mãos manchadas do sangue futuro. Quem desiste primeiro, ao primeiro passo do pesadelo. Trocamos as luvas. Quem vencer poderá romper o silêncio. Talvez seja justo trespassar seus tímpanos com minhas derradeiras palavras. Jogando as cartas na mesa. O pôquer civilizado: passando o batom nos lábios, empoando as faces, como quem sabe e segue o roteiro. Minhas torres estão vazias de fantasmas. As casas não se preenchem de letras oija. Dê-me seus olhos ou apenas uma certeza. Meu jogo matemático não quebra regras, sabe que os brilhos e o tempo giram. A cada turno o fim final está próximo. A cada jogada suspensa, a cada peça que não moves, eu movimento três outras em outros três tabuleiros impossíveis de se sustentar. Tudo se enche de pó e terra. Faltam poucos palmos para os sete e o decreto final do vencedor se selado. O tempo que temos é o tempo de tuas respostas. Não sei se algo ainda pode ser feito. Tu ainda podes jogar as fichas antes que a roleta pare. O tiro não é a pior parte, pior é para quem vive que terá que limpar os dejetos e esconder um corpo. Há ainda sobre a minha penteadeira uma garrafa prometida, cheia, limões e sal. Talvez um convite em letras douradas. Clichê e brega. Dançar também é jogar. Eu te aponto as minhas pontas prontas como lança. Consegues me sustentar no ar por mais tempo que teus braços, supinando minha respiração, suspirando entre explosões de cometas. Minhas peças estão no ar. Espero seu movimento. Eu lhe entreguei meu rei, cabe a ti o cheque-mate ou a complacência de um último primeiro lance, para sair do jogo e fugir da moldura.

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