segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

codicilo

“esperando flores”

Não há fogueira, nem mesmo água, mas é preciso atravessar o deserto. O fundo de mim se abre nas flores murchas de teus olhos e tudo o que sinto é o que dói em mim através de ti. Não é como se estivesses aqui. Tenho medo e isto apenas. Minha cabeça gira, violões respiram e transpiram as mágoas da madrugada. As garrafas são selvagens e giram no chão. O corpo nu confrontando as estrelas. Os pés em meia-ponta tentando manter o silêncio e ignorando o peso que há na atmosfera. Os ponteiros não dizem nada, nem mesmo os luminosos ao longe. O deserto é posto no centro da cidade. A Cosmópolis ruí e ruge na sua intermitência. As últimas cartas de amor talvez nunca sejam escritas, não se escrevem mais cartas. É preciso morrer um pouco mais, sempre. Eu não sei o que vi, mas esta manhã quando o sol não nasceu não poderia dizer que a poeira não fazia sentido. Os livros caídos, a umidade nas paredes pondo medo nos retratos e mofo nas memórias. Como sobreviver ao frio da matemática? Minha lógica não me devolve alguma esperança. Tudo o que vi não vale grande coisa. Tu não entendes minha pontuação Morse. É preciso tentar estar aqui comigo. A televisão ligada. As batidas na escada. O tempo não pode escapar. Tudo seca devagar. Obliterando tudo como foi mal. Dedilhando mentiras doces e te dedicando uma página de versos. Meus castelos de areia não são feitos da mesma substância que os sonhos. O suor que escorre nas minhas costas por correr e tentar sair do labirinto, faz menos sentido que o martelado dentro da minha cabeça. Queria apenas saber como esquecer. Não espero mais. O trem já partiu. As coisas sempre partem no seu devido horário. A planta dos meus pés não sabe mais o caminho. Queria apenas fugir a isto, meu caro Shakespeare, a tequila te derruba devagar. Seu rosto é apenas um rosto que dói por detrás de minha face e dos meus espelhos de mil facetas. É trágico, mas Narciso acha feio tudo o quê não se faz espelho. O deserto é um grande lago sem água, mas nunca é algo lá, inscrito no mapa, talvez seja por isso seja necessário um pouco de tristeza para escrever um diário, que um dia será teu.

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