sábado, 12 de janeiro de 2013

(para M.)

tu me pedes um verso, talvez eu não possa te dar mais que uma nota riscada num pedaço de papel. ainda mais quando o abraço não dado, quando o sorriso trocado... se perde. você e teu silêncio distante. com sua galeria de poetas. você que não me entende e ri, apenas ri. se soubesses dos meus crimes noturnos, das minhas pilhas de livros. eu que achava que talvez gostasses, eu que pensava que... mas abole as palavras. eu que aprendi que não se satisfaz um desejo, que nem sempre se quer o que se deseja. e tu me pedes um poema. me pede palavras doces nas quais eu me torno estranho, mas me faço próximo. e te aproximo tanto, que vejo no fundo de suas retinas aquilo que insiste em não me dizer. e logras, me enganas... suspende. não foge, porque nunca esteve presente. e nestes lábios desenhados, entre a lente azul escondendo o fundo do olho, entre a franja escondendo meio rosto, entre o sempre mais a oeste, mais a oeste, como quem vai desvendando a si mesmo e se descobrindo para além das curvas e da névoa depois da serra. talvez me reste acreditar no que dizes, e te dou uma nota, uma nota escrita, não um poema, nem mesmo um carta, mas isto que me pede. algumas palavras que não sei o que (te) dizem. não sei como lês, ainda que brinques de bandeira e quintana, ainda que atravesses pessoa. e creio nas almas incomunicáveis de manuel, que é preciso deixar os corpos se entenderem, porque estes sempre se entendem, se confundem e se perdem, mas almas, tudo é mais difícil com elas. e vem mário, não o meu mário, não o meu m. que me pergunta se aceito o amor como ele encara, ele que faz do amor, azul e leve, mas o teu m., o teu mário, que insiste que o amor e quando um mora no outro. mas não sei como fazer isto. e fecho os olhos para não ver. e fernando me diz, a única coisa que em termos de amor aceito incondicionamente: "vem e come chocolates, pequeno, come chocolates". mas não abandono a metafícia. e outro m. me olha, me rasga... é maria me dizendo o quando és perigoso, o quando um m é pontudo em suas duas montanhas e que talvez o sol possa nascer entre elas. mas sou noturno e trevoso. ah, llansol, de dedo em riste. e você, no teu silêncio, e eu na espera. porque não há mais sublime sedução do que saber esperar alguém, compor o corpo, objeto em sua função, sejam eles boca, olhos, lábios, treinando a respiração, sorrindo pelo ângulo da malícia, olhar através do vidro, baforando com suspiros... rasgar um livro numa página estrategicamente aberta. e ter de no fim, arrancar ao meu sexo a palavra de ler que te quer e soprá-la pra dentro de ti como quem diz um segredo ao pé-do-ouvido.

Um comentário:

  1. Fiquei sem palavras o que poso lhe dizer ´que estou feliz pois falas um pouco do que sou as vezes em alguns pontos em que tu me descreve . LINDO mesmo OBRIGADO!!!

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