segunda-feira, 26 de novembro de 2012
alguns poemas
são como pedidos de socorro
presos numa garrafa
e jogados ao mar.
sempre em busca de quem encontrá-lo
e que possa lê-los...
talvez só isto baste
para salvar um náufrago
para fazê-lo fantasma ou estrela
ainda que sem nome e sem rosto.
um náufrago é aquele que se afoga com as palavras
soluçando uma dor enviesada
olhando de lado
com trejeito nas mãos,
nunca um poeta,
no máximo alguém que escreve cartas,
mas cartas que não são cartas de amor
cartas como sopa de letrinhas
para que alguém o invente
e o encontre.
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
1/4 de século
é engraçado pensar nas linhas das mãos, abrir um álbum de fotos e perseguir alguma memória. perceber a falta e controle, aquilo que sempre nos escapa, que nos faz tropeçar. nada dos meus planos feitos e pensados me traria aqui onde estou hoje, foram aquelas escolhas diante de uma guilhotina, entre um sim e um não, no atropelo dos fatos. antes dos dez anos o que eu seria? arquiteto talvez, pelas casinhas que construía no fundo do quintal? é engraçado tentar ver onde houve a virada, onde poderia ter surgido o germem da dúvida. poderia ter sido químico, mas talvez o erro quando fui preparar o pó de mico do kit do meu pequeno alquimista tenha mudado tudo... mas ainda é terrível lembrar que a dor do não poder mais, de um sonho que sai de cena é sempre maior... eu poderia ter simplesmente aceitado o papel de principezinho e virado um bailarino, mas o corpo falha, não aguenta... assim existe minha cicatriz do joelho esquerdo. poderia ter virado costureirinha, mas a impaciência entre hipster e o fashionista me agoniaram quando eu apenas queria pregar botões. e girei entre os livros... encontrei os fantamas... vomitei algumas palavras e despenquei no divã. e nas minhas próprias sombras hoje me perco, sozinho... deixando flaubert de lado, balzac batendo as portas. e embora repita que "ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama de baudelaire", nunca mergulhei nas flores do mal, jamais naveguei em um barco bebado ou vi a fumaça mística de um cachimbo. nem rimbaud, sequer baudelaire... mas resiste a solidão de casa sem móveis de bovary, doendo... sentido as batidas do coração como passos num corredor longo e sem fim e de paredes nuas. talvez eu não possa ir eu mesmo comprar as minhas flores. nao tenho os amores loucos de verlaine. não tenho os beijos de meu herói retirado de um romance de jane austen. dói, mas o diálogo não vem: “Você poderia ter conversado comigo naquele jantar”, diz ela, já depois de estarem noivos. “Um homem menos apaixonado poderia”, responde nosso adorado mr. darcy. nem daenerys a mais corajosa das princesas; nem a alice a garota das maravilhas ; sequer liesel meminger a ladra mais honesta que já existiu. que me resta e que sombra reside no fundo do espelho? talvez não tenhamos, agora, nem mesmo paris. mas resta o tempo, o peso, a tentativa, o retorno. eu sei que é escusado sonhar que se bebe; quando a sede aperta, é preciso acordar para beber. mas os pés falham, tudo começa a não se encaixar mais... e se resiste, sofre-se, esteticamente, três lágrimas entre uma taça e outra. mas o vazio, a casa, as cortinas... o cansaço dos dias, o longo das noites... a interrogação como angústia, a insônia como afeto... que fazer ainda, se não ainda existir por aqui até que se baste.
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