eu não imagino a tarde, espero. calendário sonolento que escoa. penélope, para além de qualquer deusa grega, trança os sonhos junto aos cabelos. não sei onde é o longe. o mais longe do longe. o giro, a curva da abóboda celeste. na parede uma foto de brigitte bardot nua e fumando. a fumaça devolve o quente pensamento. eu quero àquela tarde. sem tempos perdidos. sem corridas perigosas pelas escadas. minha vida em sépia, talvez tivesse algum tom de azul melancólico. sem sons. a cena suspensa. a dores crescendo em progressão geométrica. a vida sempre tocada em acorde de sol maior. preferindo sempre a casa, sem o palco, sem a tela do cinema, de janelas abertas. o mundo é isto. do real e do impossível de mim. o que dizer para ti? eu quero aquela tarde, não muito longe daqui. uma tarde que não morre, mas se põe, como um selo numa carta, como um beijo na testa, como uma mão em uma luva. qual a cifra. põe os instrumentos à um canto, como quem deposita os olhos e depõe contra a própria verdade de (seu) desejo. assim, ao rés do chão, no tocante da pele, ali no úmido do nós em que nada faz sentido, mas apenas fricciona o desejo de... uma gota d'água não é necessáriamente uma lágrima. as minhas tardes são feitas para eternidade, presas no relógio, decido o que retorna nesta cadeia, neste eterno retorno. não é nunca a tarde que morre, mas o desconhecido que como o deserto, ou o mar, ou o céu, a amplitude do corpo se desvela sem legendas, sem fotografia, assim, de um jeito que apenas na própria tarde e no corpo, a partir deste espaço no centro de mim, se desvela.
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