Audrey observando a chuva através da janela, sentada sobre meu ombro. “Devo ter medo de gostar de ti?”. É sábado. E chuvoso. Ouço alguns gritos felizes, vindos de algum sem-lugar. No excesso, algumas coisas sempre escapam. Vou silenciar. Respirar devagar, no baixo da página. Audrey arranha, morde. Isto é instinto ou algum tipo de carinho? Minha biblioteca cai, as pilhas de livros se espalham. Minha pequena biblioteca. Sem raras borboletas ou coleção completa. Estes olhos verdes, olhos de loucos, que me observam através de um segredo felino. O quê eles dizem. Sim ou não? E ele? Audrey me responde lambendo as patas. Meu corpo pesa e afunda entre os lençóis. A gata, guardiã egípcia, não me responde, não evoca Bastet, sua mãe posta nas estrelas, sem oráculos nos olhos caçadores. Talvez por isso para os gregos, a mulher fatal era a virgem caçadora. Não sou grego. Não sou mulher. Não sou virgem. Não caço. Minha violência é grandiloqüente e só isto. Palavras que se acumulam para nada. Eu só queria uma pequena certeza, um mínimo de sentido, talvez seguro, neste mar de restos e vozes.
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