sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
cenas-pensamento VI
tenho medo. eu tenho medo. tenho medo do futuro, mas tenho mais medo ainda de estar certo. vejo a cadeira de balanço na varanda de frente para o pomar. Os anos conseguidos e acumulados nos corredores da biblioteca entre mil-e-uma-páginas se materializando nos cantos dos olhos. sem certezas. A imagem do gato agora se cindindo em outros dois, quatro, oito… bancando adília lopes nos trópicos. não sei fazer rendilhados, nunca fui bom em pão-por-deus. não creio em cartas-abertas. o joelho que agora apenas dói, cede. é, dizem, o futuro. a ampulheta vira. o silêncio é soturno como olhares distantes. eu tento não respirar quando escrevo, como se realmente a vida estivesse em risco enquanto traço as letras, combinando-as, grafando as palavras, lentamente fazendo surgir a frase como um murmúrio silencioso. como o poema, aqui, sempre à espera. um garoto que escreve tem grandes chances de ser um velho que fala sozinho.
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