Insisto em escrever para uma última impressão. É uma tentativa de ver o que consigo ainda fazer com as palavras. Todo o significado me foi tirado. Preciso não pensar mais. Deveria ter ficado com as linhas, a tesoura e as agulhas. Pessoas e palavras podem ser cruéis. Eu não sei nenhuma verdade, sei apenas o que meu corpo diz que sabe e isto não é em pensamentos. Apenas acontece na superfície fria ou quente da pele. Não quero saber quantos livros cabem na minha estante ou que posso fazer com eles: não me dizem mais nada. É sempre meu corpo que cai. Sinto-me vazio. Pó. Pó como o que se acumula nos livros. Fiel depositário de ácaros e traças. Nunca um livro. Não sou cristão, não tenho direito de perguntar qual o meu pecado. Deveria partir, tão somente partir. Sem despedidas. Sem insistir ainda. Não sei se sou capaz de terminar o castelo começado. Tudo me assusta. Não deveria ter medo. Comi minha última maçã, no escuro do quarto. My museum of fine arts. Algumas coisas devem ser apenas encerradas, sem ressentimentos. Não deveria gastar tanto as palavras, mas silenciá-las. Nem escrita, nem fala. Isto apenas aberto no branco afã da minha página. Tão retórico e mentiroso este texto: a escrita sempre torna. Um dia talvez se canse. Poderia ser hoje. Escrevo para não-escrever. Escrevo: corrente-elétrica. O fantasma rói as unhas para inutilizar as mãos, devorando os dedos, de…va…gar…
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