quarta-feira, 15 de setembro de 2010
um retrato
linhas são palavras. palavras dispostas em quadro. o quadrado de um céu abacinado por uma boquilha disposta em forma e elegância. o tropeçar de um gole de tarde num final de café. bem ali, logo ali, no futuro. o olhar que me escondes na esquina que dobras. uma linha curva tangente ao largo dum sorriso de uma boca toda leve e luz. as palavras delineam a possibilidade do limite da linha. a quebra da linha. o fim da trilha. é por puro capricho que te afastas e enquanto falas tento capturar em desejo as linhas do teu rosto, o lápis afiado, mas na linha a forma se dissolve em sons. em letras mudas. há uma voz que fala comigo no silêncio das horas. califo[r]nia. belos sons ou bela praia? antevejo a ária que lhe dedico, sem ser o verso virtuoso dum victor hugo. antes, bradifasia, resta o timbre rouco destas linhas e palavras costuradas de burato, brim e bragal. rede tecida para um camafeu que se oculta nas luzes e sombras. sem geometria. o que resta de alguma (boa) retórica? apenas a linha lida numa mordida. linha ousada. linha usada. enquanto insisto no teu rosto, mais vivo e em cores me aparece. perco no tom a linha que te amarraria aqui. poesia feita corda-mestre, neste círculo tenso. mas não te deixas ser pura palavra e nem te queixas nalguma linha. e envolves o corpo. ao estilo e jeito. e todos os meus maneirismos são reles brocatel diante dos (teus) cetins e sedas com que tramas ao tear que se faz lira. cítara. linha que sempre retorna. cabograma. carbograma. mensagem feita linha. cardiograma. (do quê fala o coração?). a tipografia tem o colarinho aberto em clâmide. linha de junção. sutura. abertura. fenda. não cruzes a perna na latência do desejo. coreografia. o corpo em desatino persegue a linha como destino. agora: as palavras estão puídas, mas as linhas sempre continuam. pitágoras. e sempre intactas.
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