sem marcas. nenhum arranhão. entre a poeira o olho esquerdo é que lacrimeja. a pele fria. a cama abandonada. sem lençóis. o vinco aberto a escuridão não dá um raio de luz. tenho de desenhar um rosto. mil tecidos. sem costura. as coisas não se unem. como eu posso encontrar ainda o quente da tua pele? sem dores. você não diz nada. nunca diz. te serve do meu corpo. te serve o meu corpo? qual o perfume ainda está gritando na minha nunca. que é isto que rasga ainda. na angústia de uma coisa que se prende. depois disso, cada minuto é meu. sou eu, mulheres, que abro meu caminho. amo em silêncio obedecido. sem registros. talvez uma leitura escondida de Verlaine, de versos que você certamente não conhece. não sei o motivo de gostar destes versos. sem reis de paus. é a água que ainda escoa pelo ralo. a maquiagem largada sobre a pentedeira, aberta. para quem posso dedicar isto? não sei como constituir essa imagem. o espelho suspenso, sem estruturas. é ainda do meu silêncio. sem rumores. sem velórios e nostalgias. há apenas a ausência do primeiro traço. do primeiro toque. o que caí, não é um cadáver. é um resto palpitante de pele. silenciado. o celular não toca. não há um misero abraço. a ardência que se expressa. é preciso um pouco mais de grego e escultura. sem renda. eu não perdi meu texto. eu perdi a sensação na ponta dos dedos. aquele gosto azul da tua boca. é isto que as navalhas desta sintaxe cortam, pouco à pouco, fatiando em sons mínimos o máximo daquele espectro. ainda há o banho. e preciso lavar atrás das orelhas.
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