sábado, 8 de janeiro de 2011

pequena não-aventura

raramente lembro dos meus sonhos, porém hoje ao acordar, não que tivesse sonhado e lembrasse disto, mas tive a sensação de um sonho. o ventilador fazia mais do que barulho, margeava o tempo, marcava o tempo, o tempo como tempo e o tempo do próprio clima. minha mão esquerda adormecia, a ponta dos dedos formigava. eu caído no fundo rosa, sobre o lençol negro, seminu. não sei o que encontrei. não era de todo um sonho. não poderia. mas estava ali tocando o delírio do jogo real que a vida compõe. talvez eu devesse ser mais objetivo quando escrevo. só talvez... você não entende e não atravessa minha floresta de signos e significantes, como um herói de cavalaria medieval, um cruzado pronto para o desconhecido em sua armadura de fé. diante do olhar clínico eu serei apenas um sintoma, mas de que? insetos me picaram. dom quixote contra o corredor escuro da biblioteca: o que ele vê? eu me prendendo nas letras, tão reais, ali, sombra negra e fundo branco. esta imagem tomada por carne. esta imagem sem pecado. é preciso talvez inverter um pouco de lógica, se você acreditar, se deus é capaz de milagres, o diabo também o é. sem grandes limites de onisciência. ninguém pode saber quem ganha no final. reminiscência: todo deus é um deus que falha e fala e fala e fala e delira. estou cansado. não como das outras vezes, não apenas cansado, mas exausto, vazio. saco plástico ao vento. o que eu olho e não vejo? gostaria de te desejar boa viagem, mas os teus quilômetros. você não admite. não sou livro, além disto: "bom estado, bastante amarelado devido o tempo, com o nome dos antigos donos carimbados, mas nada que impessa a leitura, algumas marcas na capa e folha de rosto, alguns desenhos em espaços em branco, ilustrações riscadas, mas com alguma história nas outras páginas". mas eu queria aqueles olhos distantes, o rosto armado em fibonacci. produzindo este efeito aúreo na proporção de meu tato, sensível à enésima potência. mas você está longe... também olha o mar. eu olho o mar. olha o teu céu. redesenho minhas constelações. desenho quando as palavras escapam. eu queria dizer do que gosto escrevendo isto na superfície da tua pele numa língua intelegível. a mão esquerda coça, o suor desce pelas espáduas. estou só, entre os lençóis, não sonhei. por algumas horas me esqueci. o corpo de olhos abertos nada via, era o silêncio posto no vento varrendo pra longe todo e qualquer pensamento.


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