segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Do quinto andar.

Era preciso muita preguiça para subir todos aqueles degraus de elevador.
Passar pelo corredor sem cantar ou sem saber que a porta poderia estar trancada.
Mas eu subia as escadas em silêncio porque meus pensamentos agitados
esperavam te encontrar.
Naquele quinto andar.

Era manhã bonita de quarta-feira e o sol se escondia entra a letra A e B
e eu escutava batuques ritmados sem perceber que era hora do almoço
Aquele ar me fazia esquecer do dia a dia com cara de final de semana.
E de longe eu sentia você perto
Naquele quinto andar

Era difícil aquela língua diferente, aquela cidade nova, aquela carteira usada
Respirar cultura empoeirada sem ter noção do valor da traça
Aquele teatro histórico, a biblioteca intitulada, a dança moderna e clássica, o título engraçado.
e você sabia com maestria tudo o que me encantava.
Naquele quinto andar.

Era dezembro e eu não fui a praia.
Esperei o sol chegar para eu ir embora sem ter coragem de aceitar uma nova estrada.
Aquela vontade de me dividir em duas e deixar minha caneca naquela geladeira.
Como uma forma de dizer: “ainda estou por aqui”
e eu escolhi seu desenho pra te levar comigo.
Naquele quinto andar.

Crescer
Voltar para uma casa que ainda não era minha.
Esperei fazer anos, ganhar dinheiro, andar de metrô sem garoa nos meus olhos apesar de toda a saudade.
Assim como eu, a caloura eterna,
assim como tu, meu veterano amado,
assim como seus escritos, angústias sábias.
A gente se joga de salto alto, mon amour.
E voa.
.
.
.
.
Não precisamos mais andar.
_____

São Paulo, 17 de janeiro de 2011

Natália Sanches

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