segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Quis custodiet custodes?


Plays that daring, darling Holly Golightly to a new high in entertainment delight!

Disseram-me que o dia de hoje foi um belo dia, com um sol enorme e muito calor. Não posso confirmar. É domingo e aos domingos apenas me esqueço. Porém agora esta ilha esta tomada pela bruma e um por um grande céu laranja e vermelho. Está frio. Não saberia dizer quem treme mais, se eu ou as palmeiras que nunca se integram à paisagem. Algumas crianças correm enquanto eu apenas espero o ônibus para casa, de bloco e caneta em punho. “Pára de correr, Cauã!”, insiste a mãe desesperada. “Só vou para de correr quando ficar tonto”, responde atrevido o garotinho. Talvez o garoto tenha encontrado uma verdade na impossibilidade da vertigem. Só de escrever já me encontro tonto e com náuseas. Tenho fome, mas isto não diz nada; sempre tenho fome. Uma fila se forma diante de meu banco. Treze pessoas que apenas vão, fugindo do vento. Impossível não querer sacar da máquina fotográfica pelas linhas, sombras e luzes que se formam. Possível renunciar ao querer e ao gesto. Não penso mais em Paris e em Charles com seus cisnes esculpidos em gelo. Nunca recebi uma carta sua. Nunca mais seria muito tempo para um pecado capital? Tenho de trabalhar por estes restos em que jamais se foge aos clichês – sem cinematografia. Quantas lágrimas cabem em um lenço de papel? É sempre o antes-do-desejo que lateja como dor estranha e alheia no inverso dos olhos. Ouço um dos homens da fila conversando, creio que se chama Juvenal, fala que algumas vezes as coisas mais belas são as piores. Não entendo o contexto. Eu uso sua camiseta, aquela que traz uma foto macabra e a legenda de Genôva. Tenho medo de nunca retornar. O futuro próximo suspenso. Quantas rodas sempre passam por aqui. Não sei mais encontrar o que dói e os pontos de socorro no mapa. A mochila pesa mais que a consciência. Abandono meu bloco mágico. Deu a hora, posso ouvir o relógio, é preciso partir.

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