quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Convescote
Eu penso em escrever aquele livro que te disse. Ou talvez ainda pintar aquele quadro. Ou dizer aquele poema. Penso tanto e a culpa é sua. Talvez não devesse beber. Talvez ainda não devesse parar de beber para pensar estas coisas. Tu dizes da distância, daquilo que ficou de nós, no chão da cozinha, preso na grama. Não tenho minhas pequenas dores para me confortar. Você pode dizer o que quiser, mas eu ouço Sufjan Stevens e não posso fazer nada com isso. Há o frio. Há sua imagem correndo sem camisa, com gelol no peito e halls preto na boca potencializando meus calafrios. Poderá ainda nevar na minha praia. Sabemos disso. O sul do meu peito não é tão profundo assim que suas palavras não possam me matar ou mesmo seus silêncios deixem de fazer eco. Apenas os diamantes são para sempre. Mas serão eles e apenas eles os melhores amigos? Não há nenhuma mulher insistindo aqui. Não hoje. Nenhum corpo nu de salto alto. As lolitas merecem, certamente, um céu melhor que aquele dos anjinhos rosinhas e rechochudos. Meu céu: uma taça de martini seco com azeitona. Não se pode prescindir do luxo das pequenas coisas. Isto não é um sonho em ritmo lounge. O que fazer se meus personagens são sempre superiores a suas histórias. Minhas narrativas no máximo dão um poema longo e hermético. Sem chaves. Estendo o pano xadrez das palavras. Não me restam peças ou refrescos. Abandonado no meio da ponte num dia de chuva, sem saber o que esperar. Poderei brincar de agente duplo sem resquícios de guerra fria ou marcas de dentes? Uma fogueira, um copo a mais e o céu estrelado para brincar de ligar os pontos. Há sempre, sim, aquelas nuvens. Não te diria que aqueles violinos me aprisionam no fim da noite. Não resto sempre aqui, preso? Insisto. Talvez algum dia escreva uma música para seus ouvidos, mesmo que jamais fique além de tocar a campainha de sua porta em ritmos criminosos no meio da noite. Isto parece tão pouco. 1664 caracteres como estas formiguinhas que resistem ao inverno, carregando as migalhas de nada.
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