Um garotinho gordinho de bochechas róseas corria balançando seus cachinhos loiros ao sol. Os pombos concorriam com ele e davam apenas saltinhos insistindo que aquele espaço era deles. Mais perto de mim, uma menina ruiva, de pés nus, brincava na areia. De quando em quando ela me lançava olhares desconfiados. Eu no meu banco apenas me deixava observar a cena. Por vezes o vendedor de maçã-do-amor passava por mim. Há quanto tempo eu não devorava esta iguaria? Não sei dizer. Um carro insistia em tocar Modern Talking. O tempo na praça era desmesuradamente outro. Não é o meu tempo. Havia os gritos, os espasmos. Os meninos jogando futebol, o casal próximo ao lago (que eles chamam de tanque…). Os grupos de adolescentes. As crianças em um brinquedo que gira, não sei o nome daquilo, cantavam Queen. We wil rock you. Estranhamente tudo parecia deslocado, como se a cena se moldasse. Um carro com um rapaz bizarro tocava Britney Spears. Nada fazia sentido. Eu tentava apenas fazer um retrato. Nada especial. A garotinha ruiva, lá pelas tantas, trouxe-me uma pequena florzinha, já despetalada pelas suas mãos pequenas e cheias de areia. Não sabia o que fazer. Dei-lhe um desenho. Ela me sorriu mais uma vez. Tudo parecia tão simples diante da bagunça da minha cabeça. A desordem de minhas notas, a minha mala ainda não desfeita ao pé da cama. Queria poder esquecer que havia um livro na minha bolsa, que teria de voltar, que talvez só me restasse o pó das prateleiras. Ainda há tempo para passar o natal em Nova Iorque… sempre resta a possibilidade da fuga, mas como fugir?
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