[real]
me lembram de uma série de sorrisos teus, esgarçados
espraiou primeiro ali, perto da escada,
cabelo ainda vermelho ou roxo
(a memória da cor é sempre turva
e se bobear opaca do limo
verde que detestas)
o limão também vai mastigado pelo sorriso
depois que seca o copo do perfume
que pode se chamar gin ou whisky
pula em cima do túmulo
torce o pé na queda de um triângulo
retângulo
os anjos te pareciam cafonas
assim como uma série de outros pressupostos
riscados a grafite ou nanquim
por entre alguma cor sacada do estojo
algum apartamento sujo de muitas portas também te lembra
algum chão e algum sol excessivo
foto
fóbico
alguma lista que não tinha teu nome, de repente
como várias
ou alguma lista em que o nome sobrou
algum passo de ballet com unhas partidas no gesso
ou um tornozelo magoado pela pisada posterior
alguns tocos de madeira pra se mover como fosse
fred astaire ou audrey hepburn
procurando as jóias
de salto alto fazendo croqui
emulando valentino ou brincando de dior
estava ali de unhas roídas
entre ansioso e nervoso e com uma reprimenda
na ponta dos dedos
mas também era acima de tudo neurótico
cada coisa no seu lugar
e nada podia ter lugar porque
não tinha lugar
uma ária de verdi não agradava
não dava pra dançar sobre ela
só pra solfejar, mas essa não era das suas artes
ele desfilava por cima da partitura
o traçado da nota não podia atender
dancing like a lady
sem cerveja que pode afogar
era ele e só ele o marido do conúbio astral
porque era aqui em cima e não lá embaixo
nada que não passe pela biografia.
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Florianópolis, 01 de fevereiro de 2011
George França
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