baudelaire já escreveu os meus versos. a estrada. a recusa. a água presa na garganta. tenho medo de estar sempre assim. de ser assim na vida. sempre o primeiro do banco, mas sempre sozinho. a noite faz cortina de veludo. eu não sei se quero dormir. não sei se quero voltar. queria não ser assim. talvez eu nunca consiga dizer de arte e do que eu faço e apronto. eu não sinto. eu penso. é a ideia mais particular que dói e lateja. não sou um príncipe, embora use golas à givenchy... sei que não sou (teu) sonho tornado corpo real. eu não desejaria o teu sonho que meu corpo não comporta. observo a janela como quem vê nas luzes e no vazio um rastro de vida. como esta mancha vermelha feita de terra vermelha no branco dos pés. o ônibus faz curva no real. meu pensamento dá cordas ao meu pretenso coração roubado que não consigo pôr à nu. sei esperar os correios. eu gostaria que você superasse o que você
apenas vê. mesmo no limpo da maquiagem ou no composé de cores e linhas há o pedaço de mim em que eu me apresento e que você recusa. eu queria superar o corpo, num todo-pensamento. amar ideias, nos sons, no suspenso da imagem. ali onde apenas o tato faz a sombra, no avesso da mão. mas não sei amar, não com o furor destas queimadas cuja fumaça vejo subir no horizonte como um prenúncio profético do que me aguarda. mas não creio em destino. queria estar presente, todo-presente, sem ser este pressentimento de poder-ser. sempre há o que você quer de mim e eu não posso dar. é minha pequena caixa de brinquedos que sempre retorna. talvez seja cômico o fato de eu estar passando neste exato momento diante de alguma secretária de justiça com uma sigla de DPRF... não sei o que isto quer dizer, também não sei dizer onde estou. em algum lugar sem horizonte, talvez. eu não sou bom. queria sentir que eu não valho nada, não porque possa ser treva e devassidão... mas pelo contrário: que não dá pra por isto, corpo, mente, eu, você.... em valores. não precisaríamos calcular. queria isto. no simples real da vida. no nu do corpo. poder capturar este mínimo de singular que eu reconheço e ofereço, corpo aberto, por todos os poros e passagens. eu nunca estarei no futuro. já sei do meu meio do caminho... sem inferno ou paraíso. eu não sei viver por mim. eu que insisto no real, não suporto as imagens... porque sempre sou eu que tem de compreender? eu sou sempre o banco vazio à espera. racional demais. impossível de ceder ao meu próprio desejo.
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