chove um pouco mais do que deveria. não sei o porquê de todas minhas pequenas histórias sempre começarem assim. com um chove. não tenho culpa, pode verificar, as condições do tempo realmente são estas. sozinho no ônibus, mas não, realmente, o ônibus não estava vazio. dentro dos meus jeans apertados, com meu tênis da série "azuis especiais calvin klein" enxarcados, com as meias úmidas e pés gelados, com meu capuz sobre os cabelos, escondendo o rosto, meu guarda-chuva também azul. mas a cena não é tão azul assim. leio e desvendo um pouco a biografia de françoise dolto. com ou sem lacan. o que eu descubro? a chuva ainda caí. as pinceladas sempre, neste caso, devem ser de cima para baixo, leves e imperceptíveis. lentamente, tinta óleo. nada para máquinas fotográficas. você não entende o que dói aqui. darwin diria que passei por cima da seleção natural. a minha perna esquerda diz do meu mais novo sintoma. quer que repasse tudo isto aqui dando os termos e a voz a kaplan & sadock? estou só. como no ônibus. como na chuva. sem chance. o tempo escoa como a água pelos ralos. a estrada nem é tão longa assim. o ônibus vira-e-mexe faz um curva perigosa. você finge. eu minto. crimes de 15 minutos que não passam no cinema. o livro que tenho na mochila desta vez é algo singelo."gosto muito de você, acho que estou apaixonado, mas acho que este versinho tá de pé quebrado. página 60. 10 edição. o menino maluquinho. queria poder colorir isto tudo de outro jeito. saber o motivo. sem ter de lançar os dados de novo, e de novo, e ainda, de novo, sem saber quem matou o capitão. e não consigo voltar a ler mário de andrade. não consigo também passar a ler sérgio milliet. e ninguém lê esta insistência com um pouco menos de olhos e um pouco mais de ténica, para perceber que na terceira linha, há uma vírgula que pulsa. sem boderline. o que se faz sentado, entre um sinal vermelho, o mar ao lado, é cair, apenas, na espera do julgamento. é a gravidade que inventa o tempo. o tempo apenas inventa a fome.
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