Apreendi Lisboa como que num poema cortado por um terremoto. Remando lentamente e soprando meus barquinhos de papel (rasgados de algum livro de Adília). Via o poema como um rio onde deságua aqueles poucos versos que se atracam num beco para se assaltarem. O azul do céu com o azul do mar, o sem limite com o medo escuro de ali, na cidade ainda, respirar um pouco mais. Não são os jacarandás que vejo em curta sombra alongando-se pela parede de um armazém dançando em linhas, criando o desenho de sombra que é apenas sombra, sem querer ser mais que a sombra do próprio destino. Talvez houvesse, por algum desejo ou desígnio, uma ou outra igreja despontando na contra-face do horizonte azul, o horizonte em terra, o horizonte feito pedra, dispersando as mãos, os rostos, degraus abaixo, degraus acima, ocupando os fortes. Os barcos eram assim semeados. Não há os barcos. Apenas o bonde, talvez insista. O barulho confuso se mistura num café preto e na fumaça de um cigarro bem lentamente. A fumaça recorta a cidade como em nuvem. No fundo da xícara é que a cidade sempre acaba.
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