terça-feira, 5 de outubro de 2010

de um canto de adalgisa nery

"venho das areias ainda cobertas pelos mares"

a mulher se ausenta. o ventre úmido. a pedra transpirando a imagem futura. méxico, 1945. os olhos cobrem a paisagem. há, nas pupilas cerradas, bocas que morrem entreabertas. há o fogo queimando os tecidos lentamente. não conseguimos ver estrelas no fundo desta angústia. o que quer dizer o perfume da rosa? tal é o silêncio depois das grandes lágrimas. o tempo não pesa nos eternos desertos. ambos temos medo de abrir os olhos e nesta confusão de olhares nos encontrarmos só. eu, apenas, mortalmente só. há um poema feito todo falsas palavras. há o além do poema feito todo carne que pesa, dói, grita e chora. o corpo se esfregando nu, esfolando-se na incerteza a pureza das águas, no banho feito apenas para o dia seguinte. controlados os relógios. (guardamos a nota para o contato, para os acontecimentos: rio, 28-III-45). minha guerra é outra. o poema tropeça no amanhecer. méxico, rio, denver, nova-york, búfalo, filadéfia, los angeles & a presença da morte. e essa ternura, e boas cores e tons, que nunca chega. os dedos nunca roçam meu pensamento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário