domingo, 2 de maio de 2010
um acidente noturno
as mãos ao volante, ouvindo janis joplin. uma curva violenta: coração na boca, engulo. não esperava aquele sinal vermelho, que não reconheço no fundo disforme dos meus olhos daltônicos. o céu noturno, o corpo que teve febre colado ao teu corpo. os pneus cantam roucos, atropelando de mercedez benz aquela metade da lua. ontem sonhei que era sequestrado por um taxista maluco, atravessava pontes, mares, era deixado ao longe apenas observando uma catedral gótica, com o carro sendo atacado por trombadinhas que mais pareciam duentes terroristas vestidos de rappers. eu e bobby mcgee, mudamos o câmbio, três tiros para o alto, get-out. estou irrequieto, queria uma solução para o nosso "caso". tive um pedido de casamento, agora não tenho nada. certa feita me perguntaram o que tinhamos, só pude responder que não sabia, mas que estava contigo até que você descobrisse. não preciso frear, nem dirigir perigosamente. os meus quilômetros rodados refletem no retrovisor e me devolvem uma rua limpa, lisa, pronta pra voar. sem líquido de buzina. giro e danço. de onde veio este cometa? as estrelas caem, aqui, entre meus faróis.este eu que diz eu não é o eu que se maquia todas as noites e brinca de maria antonieta diante do espelho com delírios de vaidade, sem príncipes. esse eclipse, esta noite que nos devora repentinamente. eu espero um sms ainda dizendo que me quer, aqui no banco de trás, de vidros embaçados, o corpos acelerando, milhas à frente de qualquer simples desejo. eu não tenho guia, nem seguro. afogo o motor, o ponto-morto desta escritura apenas vai, sem recalcular o trajeto. o pedal engancha, eu toco sua perna sem querer, na minha imaginação, quando vou trocar a marcha. quem precisa de um mapa quando se pode dirigir bêbado numa avenida aberta em meio ao deserto.
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