quarta-feira, 5 de maio de 2010
rumor
eu tenho fome, muita fome e uma vontade ainda maior que me impede de comer. a satisfação, nem quero. esta fome, a caveira presa no espelho. na superfície, eu me satisfaço com tão pouco, mas nem exijo nada que este pouco. que este busto em ruínas no centro da praça, que esto olhar perdido e vago. eu esqueci meu tarot em algum lugar. entre segredos, não bancaremos o analista no fundo de grossos olhos. eu sei do que não faz, do que não me diz, sei apenas do silêncio imerso em copos de vinho. os meus copos de vinho. secos. ácidos. quase nunca frutados. e brancos. largos. em dias de calma, champagne. só funciono na materialidade, com post-its incomodando. e notas. muitas notas. e o silêncio perdido entre os livros espalhados dentro do closet, no chão do quarto, debaixo da cama, impossibilitando que as portas se abra. e há aquelas perguntas, para as quais eu não tenho respostas. cansei da literatura, mas ainda insisto no gesto de uma leitura que não anda. mas os livros não andam, apenas se perdem. charuto ou cachimbo? uma barra de chocolate certamente. como decidir entre paris ou nova iorque? as cartas não chegam, as cartas não dizem. eu me vejo no espelho, a imagem do lado de lá maquiada, a do lado de cá, pele nua, machucada. como esses joelhos que insistem em falhar, com a voz que falta. como desejo e talvez isto apenas. gesto congelado diante dos teus olhos. eu espero muitas vezes respostas para as perguntas que me assombram e são impossíveis de se fazer.
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