sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Complexo de alemão


(para e a pedido de @alinenatureza)

esta é uma história densa, escura e com muito sangue frio. ele é um titã. um deus primitivo, com grito bárbaro e sangue quente nas veias. sem segredos. carioca, com um sotaque feito puro corpo. lindo, mas assustador na sua beleza selvagem e indômita. nada dizia. olhava através. não dizia muito. se sabia herdeiro de seres anteriores aos deuses civilizados de olhares melancólicos. ele não dizia, trovejava em desejos. "você será minha!". um dia ríspidamente ele disse. não se sabia bem o motivo, mas chamavam-no de alemão. dorso nu. um anjo impossível em suas nuances e pecados. um dia simplesmente desapareceu. todo o tipo de conjectura surgiu a partir disto. e tal como sumiu, voltou a aparecer. era praticamente impossível retirar o olhar daquele corpo que certamente não-existia, como uma miragem saída de algum sonho erótico. não obstante, ele vivia só. e só assim se via. e subia e descia morro. ninguém nunca cruzava com ele no samba. ninguém jamais o via na farra. ele era tão enigmático quanto sua beleza. e o povo não segurava a língua. ''...eu acho que...". um dia, chuvoso, não lembro direito, madrugadão, batidas fortes à porta. assustadoramente, abri. era ele, molhado, enxarcado, respirava mal. pediu-me para entrar. não sabia o que dizer, apenas dei alguns passos para trás. ele exalava calor, cheirava à crime e encrenca. olhava pra mim, não sabia o quê dizer, não tinha o que dizer. ele disse apenas vem. no dia seguinte: não existíamos mais.

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