quinta-feira, 24 de junho de 2010

…e no entanto o que havia de concreto?

(ou bem à Ana Cristina César)

Para Eduardo Morato

Talvez fosse um blues a mais, uma nota colorida demais que me fizesse pensar a te, acho que isso é italiano, não sei. Um postal a mais, talvez você não entenda minha letra. Ah, Charles e sua velha Paris. Nunca fui a Milano. Londres não é lugar para mim. Não quero uma saída. Tenho a saída. Me perdi na saída. Meu poema em prosa não tem ritmo: vinil arranhado. é ri-TI-mo. A Bethânia que gosto, você suporta? Eu preciso ainda de Roberto. Devo 300 dólares. Não deveria te falar, mas observa a conversa daquelas duas senhoras. Estou casada. Eu fui casada. Eu apenas tentei. Não sei. Você me pediu para escrever um romance de presente. Mostra-me a tua tatuagem. Posso confiar em você? Eu devo confiar em você? O que desenhar de você? Paro de pensar. Eu te falei da minha cicatriz no joelho esquerdo. Preciso saber um pouco mais de ti. Daydream. Haverá algo de podre no reino da tua Dinamarca? Há algo ecoando nas tuas cortinas, sem suborno no bordel. Eu preciso dizer ainda do meu desenho. Organizei a memória em alfabetos, como quem conta carneiros e amansa. Vi teu rosto. Depois não sei o que vi e te ouvi. Não podia te ler.Por muito tempo achei que ausência é falta. É preciso estudar. É tão inútil quanto esta tradução. Ninguém me lerá, não obstante eu preciso sempre dizer, te dizer. Disso. Da poesia que você ouviu, mas que você ouviu, bem fino, desafino. Agudo e dolorosamente. Não penso quando escrevo, sou contrabandista, você sabe. França fumando longe e em sépia. Meu cisne não se afoga, ele tosse insistemente no escuro assistindo a mais um crepúsculo de Cozarinsky. Manda-me aquele sinal.

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