domingo, 4 de abril de 2010
manuscrito
um estrado com cortinas de veludos com dragões bordados, sobre ele locke descansa, como personagem mascarado. no fundo da sala, atravessando o espelho, na virada dos olhos, no vermelho da retina, hobbes encontra uma reta a mais, um gole a mais. entre ele a névoa pesada. nicotina. pedras. contas, contras e cálculos. o mar aberto em fera. o palácio como selva. um mundo sem réplicas terrenas ou celestes. leviatã não é oroboro. eu venho esperando há um bom tempo, diz alguma voz. no fundo da catedral o coro de vozes híbridas se fundem e se confundem. na porta, entre as cruzes, algumas teses pregadas em alemão intelegível. um quê de sensorial faz as gágular resmungarem. um violino-navalha fia um destino. sofia abraça os cravos amarelos da terra santa. tábuas se quebram. um pesadelo surrealista não é sonhado. é apenas o rosto de cleopátra com os olhos cegos, bela feito tirésias, escorre, desce e soluça. eu queria poder dizer de ti, a ti, disto que sinto, mas eu sei que foges. não consigo te encontrar. nosso filho futuro atravessa as ruas. os céus azuis são pardos. quase vermelhos. não nos vemos por aqui. as páginas se acumulam. papel. champagne. caviar. sem queijos e delírios. sem lírios cristãos. o vinho pagão é o que verte um pecado a mais, sem nome. um beijo a mais. aquele beijo que foi prometido desde de antes mesmo do éden, na descida da cúpula celeste. os arco-íris não selam uma aliança, feitos de bruma, apenas dizem uma mensagem que não significam em preto e branco. um dado pode ser sempre importante, ainda mais quando lançado fora do tempo. sem outros nomes. esperaremos o início do jogo. as velas caem, gritos ainda, luz. muita luz.
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