quinta-feira, 31 de março de 2011

garoto dos silêncios,
um beijo pelos teus pensamentos.


Estou perdendo. Me ajuda? Segure os dados. Assopre. Quem sabe não seja apenas questão de sorte. O vencedor ainda terá uma carta sobrando na manga… por pura coincidência.

Poderia recomeçar isto com um pequeno exercício de lógica, mas não, convenhamos, não é sensato ser tão simples assim. Não sei bem o que estou fazendo. Bem, isto é uma contradição lógica, dado que sei que escrevo, mas e o porquê… é preciso ter algum motivo para escrever?

Não tenho uma história para contar. Escrever é uma maneira de pensar, de tocar o pensamento. Talvez seja incoerente isto e nem eu possa concordar com isto quando voltar a reler isto aqui, alterando as vírgulas seguintes, mas ao deslocar-se de mim para mim, há a possibilidade de vislumbrar algo em mim. Ler na letra o que o corpo não diz. Ou talvez só justifique isto para me sentir um pouco mais confortável e continuar escrevendo. Não sei o que vou encontrar. Não tenho uma história, sem grandes romances, apenas grandes alucinações e uma péssima memória.

Agora: apenas o quarto, janelas fechadas, minha gata ronronando ao pé da cama. Fim. Simples assim. Resta esta pequena dorzinha como eco de um livro que cai em algum ponto da biblioteca e o ruído vai um pouco além, passeando por outros corredores, tocando noutros livros, num efeito dominó invisível e impossível de controlar.

QUANTAS e quantas vezes tentei sistematizar e domesticar a escrita como quem tenta amansar um pensamento selvagem e fugidio. Da primeira vez que comecei estas notas, com um pequeno clipe colorido ajuntei-lhe um pequeno recorte em que as colocava sob o signo “Do que se escreve na pele”. Não obstante, esta pele, talvez por rugosa e incerta demais, assustou-me. Não tive como continuar. Assim, dedos tocando nas teclas, mais do que queria começou a se combinar, como um jogo de imagens ao acaso que por outro acaso nos possibilitam ver uma imagem maior, mais nítida, mais ilusória. Nesta segunda tentativa, abaixo da pele, gravei “Do fundo dos olhos” (de cor azul, azul Wallis). Mas não era nem o fundo nem a superfície que eu visava bem como já não me é mais possível simplesmente escrever que são quatro horas da manhã e acabo de tomar duas aspirinas. Que sei que isto não fará efeito, mas que é o único remédio que tenho por hora. Ou mais ainda: que tenho pensado tanta coisa em meio a esta crise, mas, ora, eu talvez sempre pense demais. A fronte esquerda lateja com força, como se fúrias devorassem minha sanidade mental. Escrevo para me manter ainda aqui. Neste aqui tão ilusório que não me dá nenhuma garantia de existência. Este aqui, espaço que se abre ao singrar da letra, palavra por palavra, tomado por terror indescritível. O que estará lá, vinte e três páginas adiante, na décima linha, em que o relógio pára e olhamos em torno e não vemos nada. Os rostos engolidos pela escuridão.

ontem tive um sonho que era apenas um sonho. talvez resultado da febre, da chuva, do frio. reli a "aula de solidão" de stefan baciu. eu e meu exemplar autografado. dentro dele a nota: stefan bacio, caixa postal 89, agência copacabana, rio de janeiro, brasil. não tenho a alegria de te dizer "bom dia" podendo te tocar pela manhã. eu que nunca lembro dos meus sonhos, talvez seja apenas meu inconsciente me pregando uma peça ou esta impossibilidade de fugir de mim, de sair deste exílio. meu corpo ainda dói naquela fenda de vazio. é minha hora. é preciso perder o ônibus, o trem e o primeiro passo. queria ter coragem para pegar minha mochila, algumas peças de roupa e me esquecer. perder meu nome. você não sabe do que tenho medo ou o porquê d'eu ter silenciado. desconfio de teu silêncio apenas neste esquecimento. há na sub-alínea um crime: teu ou meu? sempre retorna o mesmo pensamento.

terça-feira, 29 de março de 2011

roubando Beckett

JE VOUDRAIS

je voudrais que mon amour meure
qu'il pleuve sur le cimitière
et les ruelles où je vais
pleurent celle qui crut m'aimer

I WOULD LIKE...

I would like my love die
and the rain to be rainning on the graveyard
and on me walking the streets
mourning her who thought she love me

segunda-feira, 28 de março de 2011

billboard

(outra peça do quebra-cabeças)

esta necessidade de dizer eu e inventar o dia. não tenho humor. pouca pornografia. minha primeira pessoa se deita apenas com a sua primeira pessoa, não gosta de segundas ou terceiras. nem é descoberta no escuro, não se deixa flagrar lendo nietzsche ou parecendo inteligente. sequer escreve pareceres de literatura. é desempregado e lê livros. quando nasceu walk like an egyptian, bangles se não sabes, estava nas paradas. minha mãe fumando com os olhos em traço firmes de delineador e sobrancelhas finas. não procuro mais crocodilos ou peixinhos dourados. aqui: jesus não tem dentes no país dos banguelas. é burro, não transgressor em termos de ortografia. senta o olhar fetichista do acento no assento, bem ali no pé da letra. era tudo uma cartada musical: papai imitando george michel e implorando: i want your sex. jogando os cabelos pra traz, debbie gibson emitindo sinais, mamãe lançava o primeiro freud: only in my dreams, e invertia toda a direção do desejo pra essa primeira pessoa: vício de café sem nicotina. reflexos de quem poderia ter cantado, no lugar das primeiras palavras, um i knew you were wainting (for me), mas entre je e moi, minha primeira pessoa, ainda no vazio, arranha o inglês (se ele for alto e bonito, apenas). e num reflexo adolescente (aos doze anos perderia tempo cantando para bancar sweet child o’ mine, deixando as pistolas de plástico e odiando as rosas como sempre) pra só pedir, em voz baixa, ao tio: pour some sugar on me. primeira pessoa: uma criança gorda. mais tarde no ballet ao torcer o tornozelo, fugiria do yoga-castigo, para no banho cantarolar i will come to you... e não pensar nem em meninos, nem em meninas, mas na dor de suportar o mundo para dançar. (talvez, ainda que fosse porsh demais, não poderia dizer se isaac me parecia bonito). mas não estamos (agora) para violinos. e algum lugar desde sempre, nas notas, tocava believe, na voz -máquina de cher. uma sapatilha de ponta vale um sapato-alto? enquanto isso nos corredores do colégio, em mil firulas, um menino avançava sobre uma menina (e a primeira pessoa fora do discurso) e insistia num "vou te lambuzar de água de coco". e eu que nem era tão adulto não me importava, mas odiava brincadeira de criança. e teve madonna em nice. billie jean: no bullying! mas isto é mais agora do que antes. tão primeira pessoa, oblíqua, tangente e com pelo menos um ângulo reto e careta. aos finais do dia, antes de dormir só poderia dizer stop! (e descer do espaço para não sonhar) e esquecer de tirar a agulha do vinil antes do último help!



INTER-PELE

NÃO PERGUNTE.
APENAS TOQUE.
minha escritura é lateral. é do meu lado esquerdo que ela começa e pisca e palpita e apita. tranca. por isso o hebraico me tenta: o inverso, noutro verso. talvez nunca domine, mas desejei o avesso do que posso sentir.
te escrevo, mas tu não entendes e me pergunta como deverias ler. te escrevo ainda, mas erro a mão, afogo as palavras, o clichê invade, perco-me no incompreendido descontrole criado. tão banal. e tu gostas. tu gostas do meu desgosto. não te forçarias a ler mais, talvez eu é quem devesse ler menos, abrir espaço nas prateleiras e respirar. abro a janela, mas insiste em dizer que meu quarto cheira à mofo.
to inchado e vazando.
sinto a letra presa na garganta.
nas estranhas assonâncias
não habita mais na torre o fantasma.
a música tão matemática deste pensamento.
escrevo para escrever o motivo desta pulsão.
quem sabe, numa vírgula errada, num lapso de linguagem e pensamento, esbarre com o relâmpago fulgurante de uma iluminação.

um concerto para memória (recente) de um escritor

"coup de coeur".
(pas de coup de dés).

não verifico mais o estado da arte. eu não sou apenas um tolo, mas acho que sim. e tenho a impressão de ser um pouco mais tolo quando eu acho isto, de qualquer maneira. mas é um roubo. fechei as cortinas do teatro. quando foi a última vez que fui ao teatro? sei dizer quando foi a última peça que li. mas teatro... no pavilhão escuro, não sai da vida. é hora dos pequenos crimes. eu moro numa ilha, ao sul, com mar e céu azul, mas não gosto daqui. tampouco sei de onde gostaria de estar. e quanto mais penso, mais sei que é bach que está morto e tantos cretinos vivem. e tu que escrevestes um concerto para memória de um anjo. mas de anjos, não posso mais. quantas notas suporta um sectário egoísta. tenho um postal de uma pequena igreja de sainte-foy-les-lyon guardado. é teu aniversário, talvez nos assuste passar pelo chemin de montraÿ: o cemitério tão perto. como os anos, as folhas, o ângulo que muda, a palavra que pesa. eu hospedado no número 4 da rue des arches. por quem passo na rua? me tira do palco, desgruda meu rosto deste estranho que repete isto que eu escrevo e penso. esta cadeira me cansa. suspende minha certeza e assopra as velas. apaga o tempo com a luz.
496 anos de teresa d'ávila.
quantas cartas escrevi? quem já conheceu as moradas de minha alma? é esta minha baixa nobreza que me impede o passo. o sangue sujo que impossibilita que se erga a cabeça. eu vejo o real ao rés do chão. quando me dei conta da perda que sofri, comecei a entristecer-me, como paris saqueada pelos vikings. é esta a dor do vazio: o anjo sorri com a flecha suspensa na mão. bernini, retratou minha circunstância num contratempo. só o amor dá valor a todas as coisas. e o mais necessário é que seja grande o bastante para que nenhuma coisa o estorve. mas o dom disto não se encontra no fundo do espelho. é no descentramento de mim que meu peito dói. talvez seja a hora de nos vermos face a face. meus crucifixos estão móveis, presos em algum lugar da biblioteca, esquecidos. meu vôo é de um quinto andar ou de um terceiro parágrafo. toda queda devolve uma escritura. morrerei como quem apenas passou por uma igreja, observou suas cúpulas, sentiu a mágica, viu a matemática, impôs a lógica e talvez tenha passado pelo escolhido e não o viu.
não acredito em destino.
mas tudo o que consigo pensar
cartesianamente é:
não é o (meu) momento.
não é a (minha) hora.

mais uma peça de quebra-cabeças

"Não, não te assustes; não fugiu o meu espírito;
Vê em mim um crânio, o único que existe,
Do qual, muito ao contrário de uma fronte viva,
Tudo aquilo que flui jamais é triste."
(Lord Byron)

e ficarias comigo até quando? eu sou apenas isto e não quero te manipular. para isto escrevo um pequeno romance monocromático e monocorde (como as batidas de um coração comum). um romance razoável. sem pequenices pequeno-burguesas. apenas o cristal intocado, uma garrafa de vinho, uma boa poltrona. a vida sem pretensões de ação. (... lealtà, gerarchia e meritocrazia.... de motto aristocratico...). dir-se-ia ''cena um'', mas há apenas a cena, câmera estática, imagem muda. palpitante. sem agonísta. um olhar que cruza um olhar. leitura suspensa como quem observa e transita por um quadro. sem cinema. museu de nada como museu de mim. não sei se devo terminar meu desenho. te dar um desenho é algo perigoso. recebi um quase elogio, como um cartão de visitas: ''você é bonito, mas não é o meu tipo de homem''. aqui falta aquela peça de ''como se''. mas ninguém lê. talvez seja hora de inventar o vento. eu gosto das regras. de mim sempre saberias o que esperar. até mesmo num atraso inesperado. dos bons dias quando eu acordo, das boas noites quando vou dormir. mas não sou nunca escolhido. são os meus pas d'esclave. sem variação. aceito o convite de lord byron, ao contrário. atropelaremos don juan. sem o fino invisível das asas de poesia. estrada, sim, longa, cadáver enterrado em cova comum. bem longe da minha biblioteca. mas sem crime algum. só na memória. esquecimento como arma selvagem. (não perca o trem, corsário).três borrifos de meu perfume predileto, para um boa noite. (... esperando por outra peça do quebra-cabeças...).

domingo, 27 de março de 2011

o futuro antes do passado

tomei uma pequena decisão, entre um gole de licor de morango, de um espumante qualquer ou talvez do mojito estranho. simples. escrevo agora para alinhavar a ideia. mais uma vez, no reflexo do dia que amanhece, sem nenhuma melancolia, sem tentativa de simples poesia, encontrei a ideia. um vislumbre futuro, como sombra nos olhos, como desenho mal-feito. o esboço está guardado na minha bolsa. eu sempre sou trocado. acostumei. aquiesci. é a contigência, a não necessidade. não há motivo. eu sou isto, sem esperanças e sem grandes futuros. apenas vazio e sem nada para oferecer. dir-se-ia, café com leite. mas meu abdômen dói. é engraçado, como hífen, abdômen termina em ''n''. acho divertido estes encontros. uma palavra em quase, ali, na margem da ortografia. mas voltamos a ideia. qual o motivo te prenderia aqui ainda? não fascino. não quero fascinar. eu sou isto, salto e giro. o joelho que lateja, duas garrafas de água, por hoje nenhum vômito. sozinho observando (longe do cigarro... cada vez odeio mais os cigarros). não tinha wii. eu dancei, com garotas estranhas, fiquei só, comigo também estranho. ohei, observei, pensei mais. não sei e não entendo estes encontros, os corpos que se tocam, os sorrisos com prazo de validade. acho que temo ser vísceral. quero mais que o corpo. quero o corpo no corpo. sem crenças de alma, sem doses, corpo presente. pele. a pele que esta ali aberta a um toque, mas não um qualquer toque. o meu toque. tudo que peço é este pequeno lampejo, sem jogos (que eu nunca entendo). talvez até sem flores ou chocolate na manhã seguinte, mas um abraço, crucial: um abraço, um bom dia. talvez sem mais. tudo pode estar preso num sorriso que pudesse dizer quero estar aqui ainda. não quero arrancar meu braço que te abraça, como coyote. mas minhas alergias sempre voltam, os lençóis amassados, os livros sobre a cama, entre as roupas. ali onde meu corpo perde a mente. é possível que sonhar possa ser como pensar enquanto a mente está ali, em ponto-morto. não quero discutir contigo. seu argumento não tem fundamento. você fala para parecer que entende. mas não, tem momentos que a língua vai, apenas, indo no sem fim, no sem controle do descontrole. as palavras como trem que descarrilha. e aqui, o vazio esperado, simples, sem grandes problemas. vazio quase matemático e, portanto, significativo e lógico. sem nada pra dar, não posso oferecer felicidades ou estrelas. mas este humor ferino que não quer que a vida escape, como grão de areia da ampulheta, como grão de areia por entre os dedos. acho que esta é só a primeira peça do meu quebra-cabeças que vou montando.

sábado, 26 de março de 2011

talvez não fosse muito pra ti,
mas para mim já seria
o bastante.

Casa Grande: a Senzala é um puteiro

(para @ViniNeri)

quase gay, se não fosse hetero. coisa maluca de beber, roubar tua bebida e continuar bebendo. as chibatadas não ensinam nada. preta velha maconheira sofrendo de alucinações eróticas num cantinho: mulher, portanto, pegável. lógica precisa, quase necessitada. mas a estamos ai. três copos vazio. pés andando, vida como um barco tentando te derrubar. mas ninguém nos passa a perna. sobrevivemos com um jeito de te dizer dos pecados com sinceridade.

sexta-feira, 25 de março de 2011

procura-se

um beijo
à Gustav Klimt.

um anjo de Piero della Francesca

(ouvindo pass this on)

os olhos azuis. azuis formando um desenho secreto em azulejos lusos. talvez por isto eles me fascinem. ali, de sua torre, nas alturas, entre cabos e informações. tudo de ser visto de uma das janelas do meu quarto. imerso em números como um dos dois imperadores maiores. olho de lado. olho como quem apenas observa. desfazendo os pequenos cachos com o peso do olhar. entre a hipótese e a estimação: a decisão. talvez só queria te fazer perder a auréola. sem calculadoras. não menos ainda, abre as asas e voa. sempre neste silêncio rompante, dolorido, que grita na superfície da pele, aplacando um sorriso. poderia perguntar onde vão os anjos na quaresma? talvez um anjo feito o discípulo amado. talvez seja este trovão aprisionado na alma que lhe dê este brilho e controle de olhar: luz perigosa. eu talvez possa te encher de sorvete para te fazer pecar. talvez, abrir, a sua pele, suas cicatrizes... sempre perigosamente. eis sua parousia aprisionada num abraço. para além deste texto ruim, fica apenas o desejo olhando o céu noturno. sem estrelas.

quinta-feira, 24 de março de 2011

espero:
comprei as entradas para a roda gigante
agora não preciso mais apenas olhar o brinquedo
ou tocá-lo
mas, espero o telefone tocar
você estará lá
quando para
apertar mais do que a minha mão?
para um pouco mais de beijo?

terça-feira, 22 de março de 2011

nunca encontrei alguém que acreditasse que o pouco que tenho a oferecer,
este nada que nem sei dizer o que é, bastasse.

Por uma poesia de cama

aqui, entre os lençóis, não encontro a palavra certa que me morde enquanto durmo até que eu desperte e enfim a perca. tenho que acordar cedo, mas invoco e estou aqui, gastando palavras até encontrá-la, mas ela não vem. é rebelde, língua solta. mas também eu te castigo: ficara presa, no dicionário posto no escuro, embaixo da cama, acalentando sua rebeldia, até que o dia acorde. e ambos tenhamos que trabalhar.

Biografia, Poesia e Destino

O poeta conta sua vida primeiro aos homens; depois, quando os homens dormem, aos pássaros;
mais tarde,quando os pássaros se vão, conta então às árvores...
Logo passa o Vento e há um múrmurio de folhas
Tudo que se pode traduzir desta maneira:
O que conto aos homens está cheio de orgulho;
o que conto aos pássaros, de música;
o que conto às árvores, de pranto.
E tudo é uma canção composta para o Vento,
da qual, depois, este desmemoriado e único expectador apenas poderá recordar algumas palavras.
Mas estas palavras que lembra são as que nunca esquecerão as pedras.
O que conta o poeta às pedras está cheio de eternidade
E esta é a canção do Destino, que tampouco esquecem as estrelas.

Página arrancada de caderno


me descobri meio felícia diante do gatinho fofinho com seu pêlo branco e olhos azuis. tenho a tendência de sufocar meus amores. no silêncio de um abraço, estrangulando devagar. te bombardeio: sms. tenho medo. minha arritmia é no lado direito do peito. teus silêncios contínuos. eu livre para pensar. deliro na neurose dos meus dias que se repetem indefinidamente. geralmente te venço no cansaço e é nele que você foge.

(para Andrea)

Meu bebê está em silêncio e não sei dizer como ou onde está. não responde e-mails e não tenho como procurar. não vejo a saia de petit pois há tanto tempo que tenho medo de esquecer desta dor compartilhada. há a saudade dos cafés fazendo sempre paris ou nova iorque tão perto, tão presas no teu sorriso. eu te queria aqui, egoisticamente. para nossos abraços, para nossas descobertas.

Para Olivia

certamente você não lembra de nosso primeiro pecadinho em conjunto ao melhor estilo “eu odeio gente gorda”. afinal, contorcionismo em malas e camuflagem no raio x é para poucos e meu ballet me ajuda. repetindo aos meus ouvidos: please don’t cry, baby (u.u). esquecendo-se que isto é inglês e não me ajuda em nada. e eu reclamo os meus choros não chorados mais um pouco, costurando as viagens e delírios, expondo minha falta de beleza. tudo posto como uma trágica crise de solução (como aquela do dia 02-VIII-2010). cantamos stop!, mas não, nunca paramos, afinando as linhas dos olhos com azul (cerúleo, nunca celeste). somos do tipo fácil: um chanel vale mais do que dois sorrisos. o soluço, o luxo e a gola cinderela. precisamos trocar este inferno por algum inverno. estas ligações perigosas. cata uma foto dele para eu ver. pai este é meu noivo, ele vai me sustentar depois de ti. sem cortar nenhum luxo. quem dirá victoria’s secret. a gente finge que é uma beleza. acordo e saio de casa, nem me penteio. como se isto pudesse ser verdade, mesmo num bubble day. preciso fazer dieta. ah, logo vou poder jogar varetas contigo. esses novos viados que não respeitam nem posse, nem propriedade. something is technically wrong. temos de convidar uns jornalistas para sair em algumas colunas sociais. devido a dificuldades técnicas, não foi possível realizar a verificação de existência desta criatura neste planeta ou no bilhão de galáxias mais próximas. essas bichas que não se decidem. esses heteros que não se decidem. não sei como lidar com a etilfenilamina. não fala com pessoas perigosas na vida, ok? tu és o mais perigoso e eu falo contigo. acho que estou numa fase sensível. isto anda muito tribunal da inquisição. ontem ele estava de bob dylan. comprei uma sapatilha e lembrei de ti. like a loubotin. Também quero, EVogue. vou aprender a transformar libido em ideias. quando aprender me ensina? eu to monstrinho. ah vá, porque eu to linda… gosto do vermelho. quantos pares de sapato você quer levar? melhor: quantos pode levar? eu sou rykah! dirijo com carteira vencida e não vou ser presa, porque gente rykah não é presa neste país! to terminando um dossiê sobre alguém aí, depois te mando as notas sobre para você avaliar. mas tua “putaria” não foi embora? (olha isto: http://www.facebook.com/#!/profile.php?id=xxxxxxxxx ). TO MORRENDO DE SONO AQUI E ONDE VOCÊ TÁ? tem horas que sou mais “macho” que o macho em questão, se é que você me entende. almoçar amanhã? só se for do nosso jeitinho! beijo, te ligo a noite? mais tarde? pode ligar, baby, beijinhos. amo! este texto, embora não pareça, está em francês (aqui e no original).

fora do eixo

(para Victor)

“Get down, get deep and down”.

o carro parado em meio ao nada urbano e arborizado: silêncio. a mão que tocou a mão. sem música. o ipod perdido na noite anterior quando seu braço esbarrou na minha cabeça. lance de dados. havia a luz. a luz insistente. na esfera dos diálogos eu e uma amiga nos detínhamos em deliberar em libras: gestos. toda lembrança é repleta de gestos e línguas estrangeiras. um oi e poderia ter sido apenas isto. mas o bar cheio, as pessoas, os esbarrões. eu não queria apenas minha bebida, eu precisava dela. o que era? nada frozen, nada com sorvetes, nada dos meus drinks requintados… tequila sunrise. de longe bem pior que minha clássica e singela uísque ou gim tônica (com sua rodela de limão determinante). a cidade quente como o deserto, meu nariz que insistia em sangrar tantas vezes durante os dias. mas mesmo nos naufrágios há a companhia das últimas horas (o que dizer disto?). há o irrepresentável perigoso como risco fio da navalha na pele ou marca de chupão no pescoço… mas não, não houve perigo. (não se corre perigo com os abraços a não ser que o abraçante te levante do chão durante eles). tocava spice girls e isto faz memória daquilo que te é impossível lembrar. say you will be there. as cores deturpadas por pétalas do mal. noite de britney e afins. o insuportável tomado como espaço apertado em que as pessoas insistem em tocar. cinderela sempre precisa voltar para casa brincar de gata borralheira. dia seguinte feito último dia (estes últimos dias). espaço aberto em que o sol dispara seus raios e os olhos, sorrisos. e o até logo, quem sabe?













segunda-feira, 21 de março de 2011

muito sentimental:
copo de água com açúcar,
um romance caído,
três lágrimas.

muito lógico:
copo de uísque,
jogo de espelhos,
três pedras de gelo.
queria um beijo que não fosse mais que um beijo.
um beijo repleto de si.
um beijo que tivesse aquele aquém do beijo
como o quente de um abraço
como o roçar dos cílios quando se fecham
de um toque tornado pele
de um desejo tomado em corpo
um beijo que fosse apenas eu-tu,
sem outras idéias.
é tão comum e banal ter crises na segundas-feiras. acordei as 14h, tomei meu banho... ainda não comi. estou na biblioteca, tentando ler, tentando escrever. comecei um artigo, mas não para mim. não consigo mais pensar. não para mim. deveria parar com o poço e o não-posso, mas nem é a melancolia que aflige. não há algo perdido, mas há este suspenso, corpo quase como pêndulo. me sinto só. sábado tive um dia de bridget jones: um litro de sorvete para encontrar alguma felicidade. preciso reorganizar meu calendário. minhas agendas sempre foram mais pensamento do que tempo. há esta lógica tangente que dói. você me esquecendo. eu te lembrando. é como retratos que se esvanecem com o acumular do tempo. te enviei notícias, não recebi nada. talvez seja porque é segunda-feira e você nas alturas, como os anjos, não possa se não esperar pelo fiat lux para fugir dos portões e dos olhos que tudo vêem. mas não sei o que você vê do lado de cá. é preciso ler meu jornal diário. avaliar as letras: eu andando descalço pela biblioteca, perigosamente sem perigo algum. livros não matam, mas as folhas cortam como navalha. talvez o que dói seja a insistência da existência.

sábado, 19 de março de 2011

(ao som de "quem me vê sorrindo'' - Cartola)

abri os corredores das lembrança
investiguei na minha bibliotequinha
(quase do tamanho de um banheiro)
uma semana... uma semana...
toda biblioteca tem de começar de algum lugar
por isso te dei
uma obra rara
(como um raro sorriso)
espero que guardes
(com carinho)
com a letra do autor
com a minha letra de não autor
deste presente
- nosso presente.

quinta-feira, 17 de março de 2011

sprezzatura



« Bisogna cantare senza misura, quasi favellando in armonia con sprezzatura,
togliendosi al canto una certa terminata angustia e secchezza,
si rende piacevole licenzioso e arioso, siccome nel parlar comune la eloquenzia
e la fecondia rende agevoli e dolci le cose di cui si favella ... »
(Nuove Musiche di Giulio Caccini )

comecei seu retrato pela linha dos olhos. eu gosto dos olhos, gosto das formas das mãos.... o desenho dos pés. não pude te dizer isto. almocei ao seu fantasma, com o corpo real de sua imagem diante de mim. deveria arriscar o toque? o que se arrisca quando não tem nada a perder? tenho medo. eu me arrisco demais. comecei um dossiê. escrevendo assim, ponto a ponto, descrevendo sua percepção numérica de mundo. estou me cansando de escrever. deveria montar quebra-cabeças... qual a imagem fundo de seu desejo? quais as peças que não se encaixam. queria saber como se escreve desejo em grego. cheguei a isto: επιθυμία. não sei transliterar o meu desejo. eu queria poder ultrapassar o toque, tentar na profundeza da pele este encontro em que teu cheiro me diz de tua presença. eu escalo seu corpo como quem sobe o everest, sou uma pequena parte das tuas alturas. gosto das delicadezas. não, não penso nisto como uma fraqueza. mas como esta delicadeza de cristal, quebrado, pode cortar a superfície da ideia. não estou para escrita. talvez nem devesse ter começado este espaço... quais as consequências? é você quem entra e quem sai, por quem eu cruzo neste corredor sem paredes, em que nos corpos não se esbarram, não se tocam. como insistir, ainda?

quarta-feira, 16 de março de 2011

quase diário

8 horas da noite e uns quebrados (quando comecei este texto). espero um sms nem tão secreto. elaborei um plano malévolo. um dia comum, normal, abandonado ao passar das horas. tomo meu milk shake, leio meu livro. tenho um novo amós oz para vencer. a companhia da tarde é sempre buscada em alguma prateleira da estante. olívia ganhou um vestido novo. ao menos em cor, ideia e agulhadas futuras. caminhei um pouco. vi a vida acontecendo, passando diante dos olhos. respirar cansa. preciso ressaltar o grifo de hoje:"o imbecil é, por outro lado, incapaz da experiência da tensão, que possui ao mesmo tempo os opostos: ele sofre de neurôn atonía. a falta de tensão é a causa da franqueza que nos faz ceder ao assalto das paixões" (mario perniola). em breve avaliaremos as implicações disto.

terça-feira, 15 de março de 2011

começarei a escrever
um possível
novo
romance,
diário.

"voglio scapare via"

(02h57)

"E no perpétuo ideal que te devora,
Residem juntamente no teu peito
Um demônio que ruge e um deus que chora."
- Olavo Bilac

TALVEZ todo texto seja pretexto para uma lembrança (verdadeira ou falsa: real). a música alta, as luzes, o encontro desencontrado de olhares. para um beijo é preciso abandonar a cerveja. vodca, é, talvez seja possível. não preciso beber. tenho sede, de água e saliva. que música é esta? "obrigado por não ter me largado"(escreve ele). o vômito (... me deixa...). a vida acontece, meio cedo, meio depressa. o vento grita a angústia dos mortos. talvez devesse começar listas de quantas vezes já estive certo. no mar da vida: algumas vezes o capitão é o primeiro a abandonar o navio. sempre aposto e venço neste jogo que é puro labirinto de espelhos: "eu sei que você vai se cansar de mim, veremos em quanto tempo". talvez devesse começar uma tabela. fico na meia-ponta o mais alto possível, tentando me esgueirar até ti. já brinquei de titanic e além de me afogar aos poucos num beijo à deriva, deitados nus, tentei te desenhar, mas sem o coração dos mares sob o peito. ambos sabemos que não tenho coração. dei o inferno de presente para a ibrielita (de balzac, sem prozac) e ela gostou: é que era o inferno de dante, para ser lido numa sauna cercado de efebos. saco "de uma carta quase escrita", do (meu) romance (diário) que te dei. Copio algo meu: " é preciso vencer o tempo, sem vender a alma. este é o perigo. os poemas que lês não são poemas. poderão nunca sê-lo. sem biografismos: o que começa agora? ainda tento não abrir o mapa". quando leio sua resposta dói mais o "estávamos estranhos".você tinha medo de dizer algumas coisas. eu tinha medo de ouvir outras tantas. eu sempre repito as mesmas árias. sem hesitação: apenas pele e desejo. não obstante, esqueci o meu esboço ao lado de seu sofá, diante da janela aberta em que algumas gotas de chuva entravam e se confundiam na tua fronte com o suor. não, não era cinema, o filme foi antes. "vais ter de ir lá buscar". o sorriso tímido. "ou buscar nas tuas lembranças". mas outra lembrança é que retorna, não como lembrança, mas como insistência, três dias depois: vivo. (mas e se viver não for o bastante?). ainda tenho sinais vitais. agora: remonto um presente de aniversário para uma amiga. se soubesse o quão difícil era teria comprado o presente e não inventado isto: um louboutin em papel. na procura de um tatami para a luta, nossos corpos acabaram se encontrando no chão da sala. é divertido. artesanato relaxa, lembra as aulas de quarta-série da tia jandira (a minha tia da quarta série na realidade se chamava deonildes). o jantar pelo menos foi bom, pelo menos hoje achei um sushi na lagoa aberto. não consigo comer direito ainda. meu estômago dói. almocei iogurt, na trindade. talvez devesse estender o convite. meu fantasma aceitaria? boa noite, bons sonhos, beijo.(será que dormes e sonhas?). até amanhã?

não publico suas coisas.
não tenho, no silêncio,
silêncio-intenção.

de uma carta quase escrita

III

chove em minha cabeça turva
alcóol e ondas se confundem
no pavilhão aberto das trevas;
é um perfume sonoro
que risca nas cortinas
um sorriso criminoso.
é impossível a contemplação.


de uma carta quase escrita

X

isto é uma página de diário.
não menos à toa e escrita
à mão, como um diário
deve se. mas, não inocente-
mente, isso não faz um diá-
rio. não é só um diário.

ainda no fundo da cena
é julieta quem sustenta
as notas

-sem saia justa.

de uma carta quase escrita

XXIII

o espelho:

eu existo. e sou, eu, feio.
pura literatice
e palavras sem-vergonha
sem um vermelho a mais
querendo sempre o outro
lado
do vidro
da folha
a última página
aquela outra estrela

arroubos para pequenos furtos

"A opção pela razão, não pode ser considerada uma opção racional, mas, em última análise, uma opção moral (recusa da violência, aceitação do fato de que os outros são críticos em potencial das minhas opiniões falíveis)". Popper.

"Apraz-me, adstrito ao triângulo mesquinho
De um delta humilde, apodrecer sozinho
No silêncio de minha pequenez!"
- Augusto dos Anjos

"Eu tremia, a gelar, na solidão goiesca,
na solidão goiesca,
inteiramente só, na solidão goiesca."
- Borodin

"Quantas vezes, de súbito, emudeces!
Não sei que luz no teu olhar flutua;
Sinto tremer-te a mão, e empalideces..."
- Antero de Quental

"Feliz, que te iludiste! Os teus amores,
de que andaste, insaciável, aspirando
o perfume sutil de um só minuto,

foram apenas como certas flores
que a gente colhe, de manhã, pensando
que são belas demais para dar fruto"
- Guilherme de Almeida

"Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Por que não nasci eu um simples vaga-lume?"
-Machado de Assis.

"Traze-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas
- vê que nem te peço alegria".
Cecília Meireles.

"Tive um sonho que em tudo não foi sonho!..."
Byron

"Vamos. Fantoche. Títere de Argila,
Sob o peso da dor, que te aniquila,
Curva a cabeça, desgraçado, escreve."
Martins Fontes.

segunda-feira, 14 de março de 2011

é simples. algumas regras devem ser cumpridas. ''o espelho diz que tu apenas pensa nesta primeira direção''. você não pensa que sinais de fumaça podem fazem mal. eu me canso. quem fugiu primeiro? que não soube mover as peças. não fui eu quem disse não. apenas aquiesci. agora se atenha aos seus limites, a cartografia dada. por favor.

sábado, 12 de março de 2011

quanto vale uma lembrança?

chove, como chovia quando sai. isto não quer dizer, mas chuva sempre torna as coisas mais poéticas. há este quê de melancolia que deixa as coisas meio em sépia. mas chove realmente e no real, no molhado das coisas, a chuva nem é tão bonita assim. meu corpo está úmido. meus olhos estão úmidos e o motivo não é a chuva. vi o fundo dos seus olhos, mas não toquei ali naquele lugar em que as retinas dizem que você é único. um mojito, por favor, já que não há gim ou uísque tônica. preciso conversar, por isso escrevo (algumas vezes) como quem conversa. eu tenho tantos livros, edições raras, autografados, edições de luxo.... aqueles com dedicatória simples de natal, de aniversário, que não simplesmente estão na prateleira. eu conto o tempo pelos livros, pelas páginas... sei dizer, por exemplo, que li foucault (quase todo) nas férias de verão de 2006, a microfísica do poder me lembra, assim, uma greve. domestiquei meu ''eye candy for the style hungry". é engraçado este assombramento criminoso: você esteve aqui, tenho as provas... eu estive, há os indícios... tudo organizado como traço de existência. eu tentei desenhar seu rosto, não uma ou duas vezes, há os esboços e as tentativas disto. a caixa das lembranças. eu guardo coisas demais, talvez como funes, chegue o dia em que não pense mais. apenas guarde e lembre... recorde-me... sem a melancolia imaginária destes dias de chuva. o teu acento com os assobios italianos, de ontem. na minha mente você estaria, no futuro, me esperando na saída da biblioteca. mas não vou mais as bibliotecas. é o sépia que se exige. o tom preto e branco das fotografias. nem toda lembrança é sépia. há a vermelha, carmim... do dente quebrado no ballet. sangue. tanto sangue. a cor rasgada do joelho machucado. as costuras da garganta no pós-operatório. as peças de algum brinquedo que ainda se pode encontrar em uma gaveta. sem tentativa de museus. sem salvar nada. apenas aqui, tentando sentir aquele rasgo de vida que foi. mantendo as palpitações. talvez eu exija demais. se eu tiver sorte... melhor parar o raciocínio aqui e dormir. nem posso dizer que é o alcóol. não lembro dele. bons sonhos.

sexta-feira, 11 de março de 2011

tenho uma garrafa de vinho que se esvazia, um coração que não se enche e um corpo que acha que pensa. não obstante, quem sabe, quando a garrafa acabar, quando a música acabar, quando o pano cair, o último ato, a última nota, aquela, oitava acima... quem ira ainda estar sentado na platéia, a minha espera.

quinta-feira, 10 de março de 2011

"Mas se te dói pisar este medonho
Chão de abrolhos que eu piso, imagem pura,
Torna outra vez a aparecer-me em sonho".
- Alberto de Oliveira.

tive um sonho do tipo surrealista. isto pode parecer ser um paradoxo, mas não é. minha cabeça lentamente parava de doer...por mais incrível que pareça... tive dois sonhos reiterados. eu que quase nunca lembro dos meus sonhos, sonhei duas vezes o mesmo sonho. (se místico fosse diria que há algo pode detrás desta magia). procurava por meu lugar, uma casa, um apartamento, qualquer coisa... tinha quadros (lembro-me de reconhecer um monet derretendo em uma parede). o lugar era amplo. futuristas. linhas. espelhos. metal. lâminas. o elevador dava grandes vôos (na horizontal) pousando sempre na água. havia fontes e nelas sereias. mas sob tudo pairava a tutela mortuária: quando chegava na casa deparava-me com um grande cão negro, qual anúbis, presidindo os segredos. eu que nunca tive destes medos me intimidava diante do poder antigo do animal de olhos vermelhos. perdia a linguagem. não sabia correr. nada via. o corpo extático: olho-no-olho. animal encarando animal. nisto acabei despertando. das duas vezes.

"Não há nada de novo na morte
mas também não há muita novidade em viver"
- Essenin.

Não deveria estar aqui, escrevendo. Minha cabeça dói. Ainda estou fraco. Mas não, não se morre de enxaqueca como não se morre de amor. Talvez espere por um AVC e este seja apenas o aviso prévio. Mas sabemos que os corações são sempre mais resistentes do que parecem. Como não devo ter coração, é a cabeça que sofre. o cérebro precisa apenas de três dias para pôr a realidade em ordem. três dias apenas. um mês para acomodar. meu corpo ainda sofre. logo, haverá apenas os fantasmas nos poemas para lembrar.

Anjo Branco

1 dose de vodka
1 dose de gim
sem vermout

o telefone não toca
do outro lado toca.
a voz não atende.
sem voz. sem som. sem nós.
mas você nesta sua catedral
com esse seu viço
com esses braços largos
com sua tez de príncipe
das minhas mil-e-uma-noites
foge no fundo de seus olhos marejados
te ofereço um beijo
me dá um abraço
não resmungo
atrás de um retrato
deixo meu recado

Tentativas para um grande romance.
"a plena Literatura"
material humano:zero.
Paris sempre falha!
Tentativas para um grande romance.
"a plena Literatura"
material humano:zero.
Paris sempre falha!
me mataria se tivesse coragem, mas hoje tenho tanto medo da morte. da morte que eu mesmo criei. tenho medo da falta de consciência. da impossibilidade desse eu. o esquecimento meu desse eu me aflige. isso eu chamo de morte. a possibilidade de deixar de existir me soa agora horrível. queria tanto voltar a ter fé. poder acreditar. o inferno já seria uma boa garantia.
estou na ânsia de escrever: sinto a morte rondando como dor em um dente quebrado.

Encruzilhada

o diabo usa chinelos de dedo
quer minhas moedas
me vê aos 17 anos
me queria aos 15
antes de tudo
antes de perder o valor
de saber que minha imagem tinha gosto de estrelas
nunca fiz o sinal da cruz
deveria
o diabo insiste na pergunta
cheia de nãos
dou uma esbaforada de meu cigarro da moda
nem fumo
exorciso aqui
diante desta casa suposta
em que se tramam
e cruzam
meus suspiros

As vezes só um belo sorriso ajudaria. Estou doente. Gordo. Cada vez mais. Eu odeio este fato. Odeio gordos! É tão esteticamente injustificável. Preciso retomar algumas coisas. Bem como outras tantas. Eu sinto um machinismo vibrando em mim… Os fantasmas retornam. Sei que ninguém acredita no que eu falo. E neuroticamente sei que poucos gostam de mim. Tenho raiva deles. De mim. Não sei o que fazer com tudo isto. Mas preciso fazer logo. Não consigo ler. Nem estudar. Será hora de um novo incentivo? Era tão mais fácil quando eu só precisava confiar em mim!

Abelha:

tuas asas sabem a mel
e o teu mel a ambrosia;
o teu macho é rei e réu.
Servo, súdito e cria

Exigências: coisas.
“Preciso vencer o mau-hálito deste resto de vida”.
Eu vi o mundo girando da minha cama.
Quando as coisas falham, a resposta no silêncio não se diz; espera. As coisas são tão pequenas algumas vezes. Tenho odiado a pessoa que vejo no espelho tantas vezes que…
Queria poder me alimentar de algo, mas este corpo doente não permite. Não tenho medo. Ligação inoportuna para um talvez, ou ainda, ou nada.
Percepção: para o egoísta é mera retórica.
Faça silêncio, quando em experimento!
Não sei se as coisas se arrumara, ou não. Lembranças forçadas.
O jogo de morte falha quando não há CO2.
A linguagem prende o homem.
O homem faz arte da linguagem.

Por uma suposta pretensão de ver o mundo através de frases de efeito.

segunda-feira, 7 de março de 2011

não que seja romântico ou sentimental
(se és capaz de fazer a diferença):
apenas escrevo.
uma história para mil e uma noite.
uma noite pra mil e um poemas.
é preciso saber lançar e deixar as palavras a sua própria sorte.
se bach permitir, se o dia não amanhecer, se o sono vier. talvez eu esteja aqui. talvez mantenha os sinais vitais. talvez até te responda. talvez...
escuro. bach ao fundo. só. o corpo. o lençol azul. as horas passando lá fora. a cortina filtrando o tempo. só. só corpo. sem pensamentos. a palavra que vem se inscreve. uma poesia aquém do pensamento. desta fina e refletida palavra. uma palavra: sem escovar os dentes. o corpo suando devagar no aberto dos poros. só. esta pode ser a minha verdade. é isto que eu sei. é disto. isto que suporto. em que variação ou tom isto se põe. eu me encontro com o silêncio, com o escuro, com o indizível da noite. sem estrelas. corpo para música. as mãos para um poema. os olhos para a escuridão.

lapsus calami

todo poema é uma linguagem em queda.
meteoro:
estrela brilhante que risca o céu.
por um acaso,
por um erro,
pelos 30 segundos
de uma palavra que feio e que foi.

armei com duas ou três palavras
um palácio
em imagem
não sou capaz de música
(mas sei rimar em ão)
a simetria cindida em dois.
o resíduo entre mim e ti:
é esta palavra que não se cansa.
um rosto na contra-luz
sem jeito
estiquei os dedos
tentando alcançar a sombra
sujei os dedos
mas não rocei tua face
não descobri teu mistério.
a sopa está rala.
você mastiga as estrelas antes de mim
depois mergulha a colher
no céu escuro
cata umas e outras
e me devolve na boca.
nenhuma delas faz meu céu.
nenhuma delas tem luz.
a cabeça se parte em duas.
o pensamento escoa pelo ralo.
quanto vale uma ideia perdida?

quase um haikai

a pálpebra treme:
a lágrima engancha e não saí.
a máscara intacta se prende a face.
lençóis vermelhos para esconder o sangue. não isto não é um escrito de memória. no máximo de uma memória que não passou de impressão. eu não pediria ajuda. você não acredita nisto. o sinal também está vermelho: avançamos. mãos livres. a faixa. um salto. eu poderia girar no ar. mas não devo. eu não devo fazer tanta coisa, mas faço. alguém me disse que este é meu erro. me manter aqui, ainda firme a isto, aos giros no ar que escolho como quem diz, eis o mínimo resíduo de mim. não entendo as exigências, nem mesmo as ironias. é hora de fechar as páginas para balanço. desisti. o vermelho diz pare, na contraface diz: corte. o pontilhado diz do dedilhado agudo. réquiem. sem dar a ré. não existe tempo, mas impossível pará-lo. eis o paradoxo. é retroceder no espaço impossível de uma cartografia absurda. descubro o corpo. o meu corpo. o meu próprio abismo. (este que rejeitas na manhã de segunda feira e que se segura aqui sem mais, suspirando fundo, retendo o ar, sem frio, quase nu... na verdade do corpo: uma verdade de pele). é hora de parar. há momentos em que escrever é o mal. em que escrever diz do mal. em que escrever é apenas escrever e não diz coisa alguma, mas ainda assim é hora de parar. escrever para parar o sentido. parar o sentido recusando a escrita. eu sou uma gota em vermelho um caminho verde/azul. as sapatilhas sujas num canto dizem do que eu não consigo mais. eu não consigo mais muita coisa, acredite. por isto talvez seja hora de abrir espaço. esperar o apague da lembrança. correr para respirar. correr para repisar o caminho. impossível reprisar a vida. eu abro o significante com meu bisturi feito também de palavras, costuro caminhos, faço retratos. todos tão irreais quanto o rosto no espelho. é preciso não acreditar nisto. nesta pegada 37. ela não é necessariamente sua. mente e corpo não dialogam as três da madrugada. é preciso apagar a luz. aquiescer. esquecer. suspender este limite. obliterar o ponto final, pondo um fim cortado em barras, para além dos colchetes: apenas um fim-final. do corpo. do texto. da imagem.

estou cansado dos corredores da biblioteca. de suportar as minhas estranhas fantasias. escrevo ainda, não devo esperar mais ser lido. não sou um bom marinheiro. sei ligar as estrelas. sei as direções. eu não me importaria de não estar aqui. fecha logo a tua porta. vira a chave. te protege na atmosfera de tuas grandes avenidas. eu cansei destas sinapses tortas. leio rimbaud... atravesso com ele o inferno, sei dizer o nome das cores (de memória) de um quadro de picasso, mas você nem é capaz de desenhar a monalisa. ah, um sorriso que fosse um pouco menos que pintado. uma dor que fosse mais que a dor e não esta dor-dor: relâmpago amarelo num céu de caravaggio. o que se pode desvendar no movimento entre-quadros, num close fechado na janela sobreponho o juízo final de miquelangelo com algumas papoulas de monet e digo: les plus rares fleurs. mas tu não entendes que para além da referência há o acúmulo, a insistência, que só se completa na simultaneidade da sensação impossível que se apresenta. toque, qualquer tecla, à esmo, do seu piano a direita. qualquer uma, livre escolha. supenda o dedo e toque. o piano te dá o som do choque que desdobrado em agudo/grave melódico onde o espelho borrado diz apenas dos pêlos ouriçados que se escondem sobre a manga singela de tua camisa.

o que um olhar instaura?

agora, bethânia canta noel na minha playlist. hoje não chove. não trabalho numa fábrica de tecidos. nem trabalho. queria tomar mais um banho, mas a dor d'água na ferida diz apenas da minha burrice. desta busca apolínea de perfeição. ah, os anjos de apolo... o rei dança, eu não mais. queria que o sereno entrasse pela minha janela e lavasse meu rosto. estas marcas, este peso, este signo de quem não pode. eu tentaria compor uma música ao piano se minhas mãos e meus dedos alcançassem uma oitava, mas não posso mais dançar, pintar também já não posso, só me resta escrever pra me esquecer.
um fino punhal vara o oco de tuas palavras. o que te falta perceber? o meu preto e branco é tão nítido nesta virada de quadros. sou eu quem sempre olha o avesso dos retratos. preciso parar de ler os impressos. escrever diários longos. quem respira aqui é quem insiste em manter os sinais vitais, mesmo que à força.
porque sou eu quem sempre que devo estar aqui?
o chuveiro, a água fria lacerando a carne. eu pensei em tocar os pulsos, seguir o mapa verde das minhas pequenas verdades. o quente do corpo, o frio da água, o equilíbrio da lâmina, a verdade da dor. mas não queria deixar estas marcas. esta mancha. sujar o banheiro. preciso de assepsia. limpo o nome, limpa a biografia. é preciso moer os ossos até a não-existência da insistência do eu.
o corpo falha,
os pés doem
os olhos se ofuscam
a alma, esfolada, ainda insiste
ainda tenho sinais vitais
o vicodin não funciona mais
é hora de virar a ampulheta.
se apenas os pés doessem...
mas no deserto, não são os passos que nos atrasam,
mas a angústia do horizonte
que nunca muda.

domingo, 6 de março de 2011

convescote:
a minha palavra poética.
quando se lembrares
de encontrar
a minha carta
não assinada
dentro da garrafa
poderei ter virado estrela
cadente
e aberto em luz
meu caminho para outras constelações.
é difícil quando, ao pé da escada, no fundo do corredor escuro é preciso se deparar com o silêncio. voltar para a rua, o frio, a chuva... ou enfrentar os monstros da torre do castelo?
jogo sério. a bomba armada plantada no jardim, no meio das hortências. quinze minutos. qual sua última cartada? como respirar quando simplesmente o ponteiro não pára. devia desistir disto, não obstante, não puxo o gatilho, mas fico, capitão do navio afundando, como expectador no limite do olhar.
o carnaval faz faísca.
acho que vais virar pó
antes da quarta-feira
de cinzas.
dia quente. sem vento. sem brisa. meu ouvido esquerdo dói um pouco. eu não te leio mais. eu te esqueço aos poucos. voz, toque, face. você é quem desceu os primeiros degraus. tenho medo de gritar e encontrar apenas o eco. prefiro o silêncio. ou não.
você não gosta de poemas.
eu não gosto do seu nariz.

pro seu nariz há a plástica.
e pro meu poema?
uísque, tônica, gelo, uma rodela de limão.
do que entra, gira e contorce.
há os tremores do baixo ventre.
algo troveja no centro de mim.
a lágrima nunca vem.
o corpo é um deserto.
sem oásis,
é preciso matar a sede
com outras certezas.
ousadia:
escrever um poema
com receita.
gosto de manjar branco, mas você, sherlock, é um péssimo detetive. te dou todas as pistas e deslizes e deleites que quiser. quase acompanho cada nota com uma xícara de chá. e tu aí? me ignorando os sinais que deveriam ser óbvios, insistino no erro e no erro e ainda no erro. nome disso é esperança: errar de novo crendo que pode dar certo. meu caro sherlock, as vezes, é preciso baixar a cabeça diante da estatística.

memórias de infância

descubra meu corpo
os rodapés estão nas cicatrizes
nos ossos
nas pequenas deformações não vistas
no pé 37 em ponta
o pescoço longo
o peso dos ossos
a marca na língua
a pinta no olho esquerdo
ou no dedo mínimo esquerdo
a marca na coxa direita
a lesão no tornozelo
o dente perdido
que isto poderia narrar?

Procurados

montaria
uma pequena galeria dos nomes
assim numerando e alfinetando
nomes, sobrenomes e livros.
não consegui.
sempre fica a sensação de que
dizer o nome acorda o fantasma
escrever é mantê-lo preso
aqui
assombrando minhas galerias.
tenho a minha galeria de poetas mortos.
tenho a minha coleção de retratos de poetas vivos.

mas as vezes
na estante
confundo
quem já foi
e quem ainda não veio.
"A metáfora
é a errata."
(Adília Lopes)

a chave inglesa gira nas mãos
e aperta mais um enigma.
que há no meio do teu corpo aberto
há um homem bonito
a natureza escreve em braile
é preciso ler
com a delicadeza
das pontas dos dedos
desenhando na sombra
o nome
como um pequeno segredo.


não sei nadar,
isto me impede o remo e outros esportes.

não sei rimar,
isto me afoga num mar de palavras.
um nome
meus domínios
uma procura incendiária:
o que você queria aqui
sem ser convidado?
a comida está crua.
mas as idéias cozinham
lentamente
teu corpo.
eu não consigo escrever seu nome
nem mesmo num anagrama.
não tenho um primeiro livro para ser publicado.
não consigo dar rumo a um romance...
o que escrevo vive na superfície da minha pele...
na escrita, geralmente, abandono os dados
só para ver as marcas que eles deixaram
na palma da minha mão
quando os segurei.
não tenho opinião
não formo pensamentos
não entendo de política
quiçá de economia, direito ou qualquer coisa de estética.
sei ler...
leio um pouco...
as vezes, insisto, em escrever.
quem poderia dizer realmente que amou alguém às raias do tédio?
não consigo dormir
que é isto que está atrás do meu pensamento
esta ruga
esta fronte que lateja
que nome dar a este
desconhecimento
mais do que conhecido
que vive aqui
rasgando a lucidez do corpo
em duas
três
ou mais verdades
deveria te devolver
os versos que ganhei?

deveria esquecer
aqueles que te dei?

a mulher caída


dama entre as flores
(a literatura faz mal)
o olhar suspenso na janela
que brisa toca seus cílios
que rouge a mais cora teu rosto
que lhe faz arfar o peito no corpete
um último suspiro
una furtiva lacrima
é o que se prende no retrato
para além de toda lembrança.

La sonnambula

«Ah, non credea mirarti sì presto estinto,
o fiore passasti al par d'amore
che un giorno sol durò »
(Amina, Atto II)

ainda sou capaz de ouvir os aplausos de milão ao fundo, som baixo, ritmado, sequência, suportando a última ária. talvez eu ainda esteja imerso nos lençóis do sono e todos meus passos que avançam no mundo, não te tocam o rosto, mas apenas diáfana cortina feita de medo. ah, non credea mirarti... talvez o moinho a girar, em seus ruídos, insista em me fazer ouvir teu nome. o exótico oboé me cinde em dois. eu preciso encontrá-lo: o labirinto é um caminho entre dois mundos. olhos semi-cerrados: me equilibro ante teu chamado. não ouso despertar.

encontro

cyrano, ainda hoje, em algum café por paris, talvez charles ainda te espere. talvez para terminar o romance, talvez para fugir em algum cavalo luzidio. quantos bilhetes ele teria te escrito pra insistir nisto? quandos bilhetes seriam necessários para fazê-lo mudar de idéia? ah, savinien, ambos sabemos que ao fazê-lo fugir, quem fugiu foi você. quantos duelos você enfrentou, mas fugiu daquele que você certamente já tinha ganho. tinha na ponta de seu florete o coração de charles, não obstante, recuou. ele te rouba o cantar roxanne, roubando-a da família, que subjugas e assina, e recua, e insiste, e clama, ah... o fio da lâmina do sarcasmos, a ponta fina da ironia... countre soucidas.... quem seria o pendante enganado agora?
resolvi traduzir anatole france. o que restaria de um pequeno verso. como este líquido que escoa. matar um soneto, sobre morte, em prosa livre. porém se você joga a virgem, musa em pequeno verso delicado, sobre os ramos brutos de uma longa prosa.. não adiantaria sorrir este riso solto que sua mãe lhe pôs nos lábios. a poesia lateja como um corpo quente que sabe seu preço, preço caro e raro que só faz aumentar nas suas formas ainda não maduras. quanto vale um poema dourado de meio século? talvez numa destas noites em que floresta esteja cheia de murmúrios, o ritmo das estrelas faça, em sua luz, tu encontrares ao mesmo tempo, um choque, tua carne e teu espírito, suspendendo com força o fôlego do desejo, como que para suportar um pouco mais este sonho. há uma certa mistura: sangue jovem, flores, beijos... são teus lábios que são tingidos pelas letras que lês, mas que te faz, na maquiagem diurna dos corredores, a segurança para ainda percorreres os corredores das bibliotecas. o que você procura? o verso maduro? ou a fruta ainda fresca destas iguarias servidas rápidas nos salões de festa? se tu precisas de amor e o procuras nos poemas, estes mordem... o limite do leito amante é aquele que toca a morte. sua flecha é apenas um casal de deuses que criam. quantas estrelas eu poderia te dar? sabemos, realmente, que nenhuma. mas te confortaria esta ilusão, bem sei. os peitos mortais não entram em erupção, mas escondem segredos maiores e talvez não tão valiosos quanto uma pompéia soterrada. aluguéis, amantes, a morte ainda sagrada... o que espreita ainda em teus bolsos? talvez o verso só precise de teu beijo embriagado, desde que tu te entregues ao beijar.


nu.
corpo suspenso.
as listras da vida.
as listras do asfalto.
as listras da cueca.
este eterno vício
à Anatole France
de determinar
um limite pra toda dor.
prefiro tão mais meus textos curtos. creio que são muito melhores. e não tanto como os longos, prosaicos, que tem isto de catarse, meio sujeira, pensamento excessivo, muito de eu, pesado de mim... em que toda escrita parece limpeza de um salão de festas em que os fantasmas ainda insistem em não parar de dançar.

Do not all charms fly
At the mere touch of cold philosophy?
There was an awful rainbow once in heaven:
We know her woof, her texture; she is given
In the dull catalogue of common things.
Philosophy will clip an Angel’s wings,
Conquer all mysteries by rule and line,
Empty the haunted air, and gnomed mine -
Unweave a rainbow
(John Keats)

quinta-feita choveu. é estranho como me lembro disto agora. fazia tanto tempo que não via um arco-íris tão nítido. os dois lados do arco se desenhando perfeitamente no ar. já não chovia. parte do céu se abrindo devagar, tímido. talvez o redondo de mim se encontrasse no oblíquo do horizonte. eu não pude escrever diante daquilo. um arco-íris é tão simples, puro jogo de luz, mas fascina. eu sei do real do jogo, mas ainda assim há algo que faz meu corpo vibrar. uma música silenciosa ainda toca na paisagem.
em caso de crime de amor
a pena deveria ser
perpétua:
carregar o corpo da vítima
até o fim dos (teus) dias.
matar,
mesmo que de amor,
ainda é crime.
escrevo respostas demais, para perguntas que nem sei quais são. talvez estranhos que passem por aqui apenas se identifiquem na semelhança de alguma sensação. mas eu não escrevo sensações, escrevo as palavras que nada dizem desta sensação. eu sei resolver equações. aquelas em que o s não é uma incógnita, mas um sujeito (que supomos saber dele). eu deveria dormir mais, pensar bem menos. não sei se consigo acreditar em coisas simples. não consigo fazer a barba sem me cortar um pouquinho. eu já pensei, confesso, em descobrir com uma gilete o mapa azul dos braços... mas tenho medo, medo da dor, do insuportável. fiz a barba, na preguiça, porque já os pêlos já roçavam o lábio. eu posso ser o mesmo, com ou sem barba? quem você prefere? tu não me diz de como me porto, nem tenho certeza completa de que você (indesejado leitor) me lê. ("...a casa da saudade é o vazio..." canta ao fundo bethânia). onde é que me afogo? me faz alguma pergunta para que eu possa continuar escrevendo... o sem direção é como a corda no pescoço, pelo tato, pelo nós dos dedos, eu mal sinto o cadafalso sob meus pés e tenho medo da hora que ele vai se abrir e eu terei de dar o derradeiro passo.

sábado, 5 de março de 2011

poesia de agora

Sabe quando você precisa se descansar de si mesmo?
Quando a leveza da alma é menos densa que uma lágrima.
Há horas que desaparecem até mesmo os abismos?
E um descanso que angustia...

Há horas que não queria pensar
Nem escolher o que fazer
Não sei se é melhor seguir em frente ou retroceder
Se é esperar ou fazer acontecer...

____

Por Augusto Jr.

do que se suporta



as linhas, o fundo dos olhos, a distância. você sentado sozinho num parque ao pôr-do-sol. eu te ofereci um texto. não me perguntas mais quais são tuas letras? talvez o sol já tenha se posto. na ponta dos pés é que eu equilibro minhas dúvidas. quase chorei, no banho, quando a água tocou meus pés. mas eu me sabia ainda vivo. ainda aqui. sozinho. mas ainda aqui. você gosta de frio? eu mal consigo andar, mas fui eu, desta vez, quem deliberadamente escolheu sofrer na ponta da sapatilha. esmagando os dedos. é um sofrimento talvez controlado, talvez, aqui, do corpo, respondendo ao seu limite. queria poder dizer daqueles outros sofrimentos, muito piores, que não atravessam os ossos, mas os fazem vibrar quase se quebrando, rangendo os dentes. talvez seja o frio, talvez seja febre. mas pode ser (também) apenas o vazio.

quinta-feira, 3 de março de 2011

eu não tenho coração.
poderia me dar um pedacinho do seu?
(para Rodrigo Kairala)

fiz as escolhas não erradas,
mas as mais incertas.
desloquei o tempo.
destruí o espaço.
rompi os tendões.
não tenho história.
perdi meu nome.
ir pra cama
ficar deitado
esperar o sono
tô meio criança pequena.
"vai pra cama que o sono vem".
há dois dias espero por ele.
há mais tempo espero por tantas outras coisas.
eu sei esperar.
dizes do nu artístico
mas antevejo
na dobra da pálpebra
aquele solução de desejo
escondido.

axioma de bailarino

a dor lembra que você está vivo.
sou bichinha, mas sou macho.
enfrento o corpo.
danço ballet.
todos são culpados
até que se provem
inocentes.
entre o erro e o engano
a sorte
sou lógico
talvez não burro
corro os riscos
pago o preço.
a vida é uma agiota
sem crimes.
trabalho terminado.
escrita vencida.
meu corpo esta cansado.
minha mente, vazia.
"Enche o teu copo, bebe o teu vinho,
enquanto a taça não cai das tuas mãos..."
(Ronald de Carvalho)

minha cama não me abraça. pelo chão do quarto, livros se empilham, a sapatilha sobre um dos montes retrata uma imagem possível de ser tatuada. num canto, aberta, a mala de brasília ainda resiste. é sempre tão mais difícil desfazer as malas do que arrumá-las, é tão mais fácil partir. tão mais complicado voltar e ficar. aqui. o espaço cerrado doendo e doendo. as paredes se acumulando em eras. na parede uma aquarela pode embolorar a qualquer momento. nas estantes os livros correm perigo. meu corpo é que dói. eu parei de escrever. escrevo para ignorar que posso contar os segundo na velocidade em que digito os caracteres. eu gosto de dar pequenos presentes. não peço nada em troca. me dá o que podes dar. ou o que não tens e gostarias de dar. mas você ainda nem está aqui. a taça vazia. alguém partiu ontem também. para onde foi? são paulo, campinas, rio de janeiro, fortaleza, curitiba, vitória.. qual meu destino sem mapa entre buenos aires e mendonza. é sempre mais difícil emagrecer na alma. os pensamentos sempre pesam mais que a consciência. preciso de um pouco mais de matemática. preciso arrumar as lições. de ballet. de literatura. de desenho. de nada. se você puder acreditar eu estou há mais de 50 horas sem dormir. a enxaqueca não veio. o sono não veio. os abraços também não vieram. o que veio foi a chuva. eu consegui matar um pernilongo apenas no olhar. isto deveria significar algo. mas a taça ainda continua vazia.
podemos nos esbarrar amanhã...
(seu sempre prefiro os encontros, ainda que fortuitos)
vou te roubar um beijo...
(gostaria, também de concedê-lo)
(para pedro f.)

abre a boca, sem susto, deixa eu antever o seu céu estrelado. ali, onde voz e prazer se encontram cadentes. o que se aprisiona no fundo do dente pode ser apenas uma angústia? medo incluso ou impactado. o que se prende na gengiva é sempre mais que o desejo. limalha de prata, que jóia se faz com isto. a fada do dente nunca realizou nenhum de meus pedidos, nem me deu nada em troca de meus dentes de leite. meus pensamentos sempre tem mais de três raízes. dá tua mão, deixa eu te levar para passear pela biblioteca, como quem diz destas histórias em que artérias, veias e nervos ficam apenas latentes, à espera. uma mordida pode dizer mais do que do pavor ou da fome, diz também da consistência do corpo, mas é sempre nos lábios que se encontra um beijo, que diz da consistência da alma.
"Este rosto que é meu, porque é nele
Que o destino me dói como uma bofetada."
(Cassiano Ricardo)

os pincéis dispostos uniformemente, tentando aplacar a fúria, o vermelho quente, a mancha de dor do rosto. aquela ruga, o quê diz. que constelação se pode desenhar em minha face? eu pinto, pálpebras, maçãs, nariz... alongando os traços. eliminando o tempo. recobrindo nas camadas de pó, a carne, futuro pó. o olhar é que nunca, apesar de tudo, se altera.
comecei a ler zélia gattai.
também tenho meu chapéu para viagem.
ginvenchy.
com grande laço negro.
veremos quando vencer mais esta história.

quarta-feira, 2 de março de 2011

meu relógio diz as horas
é preciso correr
sem parar o tempo
sem suspender as leis
atravessar perigosamente a vida
sem olhar pros dois lados.
talvez não tenha ciúmes
é simples
é lógico

... mas isto não significa
que isto
não machuque.
nem sei mais chorar
pra ter os olhos vermelhos.

johnson & johnson
não me apaga mais
as imagens
que deveria esquecer

no vapor do banho
na solidão de um quarto
que poder destruidor
tem uma taça de champagne?
meu pescoço tá vermelho
o mesmo inseto de sempre
acordando minhas alergias
me lembrando que
ainda tenho um corpo
que pode reagir
ao contágio
preciso aparar as arestas
desta angústia que rasga
para que possa rolar
feito lágrima.
daquelas vontades loucas de não
existir numa taça de vinho
quebrando a solidão
em queda-livre
na maioria das vezes
não gosto do que leio.
menos ainda do que escrevo.

terça-feira, 1 de março de 2011

sexo diz da necessidade fisiológica.
abraços, quiçá um beijo, um carinho
da psicológica.
coração:
nem tenho
sou coração gelado
seu ursinho carinhoso.
"Matou o analista e foi a Miami."
(Antonio Carlos Sechin)

o que cabe em orlando? minha vó é quem me deu um broche que alguma amiga furtou. análise: os livros empilhados sobre a mesa. análise: o corpo curvado sob o divã. uma princesa disney esconde no bolso meu brinco de diamante perdido. coloco os fones de ouvido. você espera pela ordem do dia, lady gaga. te ofereço a minha loucura usando o à prova d'água de rameau. não registrei o b.o. dos meus celulares roubados. me perdi nos números tantas vezes. prefiro o pequeno príncipe ao invés de alice. faço no máximo tricô, não tercetos. cameo. a bicúspide lateja: válvula entopida. há o vazamento de gás. o futuro incerto. alguém me compra um jornal? precisava comer. corre, vais perder o ônibus. tu brincas de voyeur, eu me exibo bancando o correspondente de guerra que não tem sombra de dúvida. não sou de capricórnio, mas escorpião com ascendente em escorpião. lua também. tem um copo de uísque para o café da manhã? as damas da noite se fecham, mas ainda afetam minha alergia. e tão proibido. esgarço a conversa: não falo de matemática. é você quem aparece dentro do apartamento do pianista ou estarás embarcando num trem com um contrabaixo? assisna o contra-cheque. dá sua resposta. passagem ao ato: embarco.
"acho que é bailarina"
(Cácaso)

o anjo que se lhe apresenta tem a face como um vitral partido. não digo se, nem mesmo ainda. sem condições. não canto. você nem me vê. já cavalguei cavalos brancos sob o orvalho congelado da manhã e, sim, eu tive frio. a pele rebentando devagar nas extremidades, o olho lacrimenjando pequenos cristais. se talvez aqui pudesse ser um palco ainda. violei a regra. alonguei o verso. contei os caracteres como quem contava os oito tempos, mas sempre perdia o ritmo. ponta. a escrita é capaz de sustentar o corpo em seus pequenos pés-de-letra? avançando devagar, sem desespero, não encontro o perigo.

"Há quem chore, há quem ligue a chave de ignição"
(José Carlos Capinan)

não sei dirigir. também não sei chorar. escrever é um delírio bem particular. como quem não come o feijão com arroz dos dias. eu como nada. você não entende. é disto que eu preciso. você talvez dessa sua escada lentamente para sua corrida matinal. eu apenas deixo os dedos cavalgando, as pupilas correndo sobre a página, soltas na pista, prontas paras as curvas perigosas. não tenho o corpo que você gostaria, mas dou um belo rodapé no teu drama.

"eu sou como eu sou"
(Torquato Neto)

me desdobro na lógica, acreditando na estrutura fundada. o relógio é que pesa como as pálpebras as seis da manhã. nem toda insônia vale um poema. nem todo poema é um pedaço de mim. a maquiagem malfeita, esta hora, talvez ainda seduza. escovo os dentes para dormir, respiro para não acordar.

"Uma curva e eis-nos diante de meu coração"
(Francisco Alvim)

o que cai, bate, estatela.
eu é que parti
mais longe do que a viagem.

não toquei a estrela
nem mesmo o reflexo dela no fundo dos teus olhos.

restou apenas isto,
a letra pendente como ps
na carta não correspondente
o envelope que não sei se chegou
o que queria te dar
e não pude
enterrei em algum lugar
talvez sem querer o encontre.

Poema Cavalleresco

(florilegi)
...come amor lo strinse...

che sappiamo del tempo?
romanzo cortese,
canti di antichi cavalieri:
(Amor mi ispira)
guanto, vela, rose.
(non mancano di freschezza di sentimenti)
una lacrima
non più in volgare amore.
nella mia ombra
persone aristocratiche
e di gusti raffinati.
che vuoi? che vuoi?
ricordiamo anche il ritmo di travale
che passa nelle scritture
Credo che in provenzali
Prendi una pausa della penna
per lo più anonima.
ammirato da lontano.

(coisas de biografia)

você esteve na minha vida por mais do que três longos tomos completos.
eu não estive na sua nem mesmo num lampejo poético, rima simples, um verso.
não é relevante desperdiçar veneno em bebidas postas em copos de plástico.
é incoerente reafirmar as certezas de como realmente as pessoas esquecem mais do que seu nome e seu rosto:
sua (in)existência.

um pouco de xadrez

quantas peças estão postas diante do tabuleiro? eu preciso dar as devidas pausas para escolher como me mover. é sempre preciso, nas dez primeiras jogadas, evitar bloquear as próprias peças e assim ir liberando espaço. em que jogada estamos nós? quando posso dizer que tu, quem começou o jogo, parou de jogar e derrubou o rei? mas o jogo aqui é mais grave, as peças são combinadas, as casas para ser ocupadas são mais amplas, o tempo dispendido diz da tua coragem. mas isto pode significar somente quando um de nós desistir do jogo. talvez esta seja a jogada perigosa. não adianta assegurar suas fortalezas para tentar um futuro roque, o que temos pra esta noite não são algumas notas feitas de algum rock'n'roll. é cello dolorido, o arco deixando marcas no carpo e no rádio. o que tu sintonizas? escondendo nas mãos nervosas de unhas roídas os dados no bolso esquerdo da calça. eu sei onde tu esconde tuas cartas falsas de ás de ouro. saber do jogo não me impede de pará-lo. dizer isto apenas muda as regras de lugar. sem flores na manhã seguinte por favor. jogadas ensaiadas não surtem o devido efeito quando se descobre que as casas vermelhas valem -10 pontos. qual a vantagem de manter o controle? insisto. eu te mostrei minhas cartas e eu não blefo. todo ganho do peão na abertura com a dama é um erro. nunca toque na dama cedo demais. mas não deixe passar a chance. é o rei quem sempre pesa e (se) atrapalha nos lances. recomendo: giuoco piano. algum vinho, chocolate, por favor. evite tocar o fígado no jogo. eu tenho minhas defesas preparadas, não tenho medo de impor as linhas de sangue. mas você sempre para de jogar e foge, não desiste do jogo com honra, não sabe da desculpa para mantê-lo aqui. não me diz ainda nada. eu nunca insisto. escrevo sempre. nunca recapturo um peão, mas ofereço apoio. qual a ordem dos movimentos numa variante fechada? não tente argumentos lógicos ou sorte num jogo restrito. sua coluna está aberta. é minha dama quem te olha. peças negras e luzidias armadas de brilhantes até os dentes. não te faço peão dobrado. te libero no campo aberto, saltando as minas, os paus e as copas. não te preocupe com minha dama, é seu rei que é o alvo.